Há mais de 55 guerras e conflitos hoje no mundo

Este ano é o mais violento no planeta desde o fim da Guerra Fria. Desde 1991, não ocorriam tantas guerras e conflitos simultaneamente como hoje.

“Quando a gente chegou, você vê uma cena triste, da cidade com os sinais do conflito. Carro capotado na rua, cidade conturbada”, relata Rodrigo Cata-Preta do Médicos Sem Fronteiras. 

Rodrigo Cata preta é cirurgião do Médicos Sem Fronteiras e esteve no ano passado no Sudão, país que vive uma intensa guerra civil desde abril de 2023: “Era o único hospital ativo com atendimento cirúrgico. Sem nenhum do governo. Porque os profissionais saíram, né? Migraram junto com a população. A maioria dos pacientes eram vítimas da Guerra mesmo.”

O Sudão vive uma das piores crises humanitárias no mundo, com um conflito étnico e político. Estima-se que o número de mortos já esteja em mais de 15 mil e mais de 6 milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas casas. Rodrigo trabalhou em um hospital na capital, Cartum, onde também morava por motivos de segurança: “Foi mais complicado todos os dias, a gente escutava tiro e bombardeio. Isso era contínuo, a gente estava relativamente próximo da área do conflito. O problema era quando acontecia algum evento que a gente chama evento em massa, né? Um bombardeio maior ou alguma coisa assim, aí vi um fluxo de pacientes. De uma hora para outra tinha 400 doentes, para três cirurgiões, isso sobrecarregava. A gente atendia tanto combatentes, quanto civis mesmo. Uma vez dentro do hospital sem armas, qualquer pessoa seria atendida.”

Depois de um golpe militar e 30 anos de ditadura do Omar al Bashir, pelo menos dois grupos políticos liderados por generais disputam o poder no Sudão. De um lado, Abdel Fattah al-Burhan, líder das Forças Armadas Sudanesas, do outro Mohamed Hamdan Dagalo, chefe das Forças de Apoio Rápido. Os dois trabalharam juntos e realizaram um golpe e agora sua batalha pela supremacia está destruindo o Sudão.

Quase um ano depois de retornar ao Brasil, o médico Rodrigo Cata Preta continua acompanhando a crise por lá e diz que, por causa de bloqueios impostos pelo governo local, está ainda mais difícil chegar ajuda humanitária à região:“Tá, tá pior. O hospital onde eu estava teve que ser fechado porque chegou a um nível crítico assim que realmente não dava para atender paciente, né? Não tinha como fazer atendimento de cirurgia, não havia material mínimo, mínimo. Foi piorando, o conflito estendeu-se à cidade, com ataques a hospitais e a equipe de saúde.”

A situação só piorou nos últimos meses, principalmente a partir de maio, como relata o líder médico do Médicos sem Fronteiras, Adam Ahmed Shomo: “Gradualmente, nos vimos em meio aos combates. Então, mudamos de hospital. Agora, todos os serviços de saúde estão baseados em um único hospital. Mas o mais desafiador é que não há suprimentos médicos. As camas não são suficientes. A cidade está cercada e desde 10 de maio nenhum carro ou caminhão está entrando. Os suprimentos não chegam de nenhum lugar. Mesmo nós do MSF não conseguimos trazer nossos suprimentos.”

Além do Sudão, pelo menos outros 23 países da África vivem em conflito atualmente, como Etiópia, Somália, Nigéria, Mali e Burkina Faso. Ao todo, no mundo, há mais de 50 conflitos armados, sendo ao menos 10 em grande escala, como a guerra entre Israel e Hamas, a invasão russa contra a Ucrânia e guerras civis no Iêmen, Mianmar e Síria. Ao todo, os conflitos ocorrem em 38 países diferentes, em busca de mais território ou poder político. 

 Na avaliação de Vladimir Feijó, professor de Relações Internacionais da Faculdade Arnaldo Janssen, de Belo Horizonte, mudanças econômicas e sociais explicam o cenário conturbado no mundo: “O Conselho de Segurança para prevenir ou resolver conflitos está em crise. Membros do Conselho de Segurança tem vetado muito. Depois de 2008, com a crise econômica dos Estados Unidos se alastrando para o mundo, ela reduziu não só pelos vetos mas também por falta de verbas da ONU. O problema orçamentário fez com que a Unesco esteja fazendo menos menos menos menos coisas, a OMS fazendo menos coisas e aí as pessoas em situação de desespero buscam resolver a sua vida através do conflito armado.”

E o que explica parte desses conflitos ter tão pouca visibilidade?

Em ambientes em que tem baixa presença da internet, com pouco sons, com poucas imagens por mais que se saiba da existência desse conflito ele não consegue chegar a ser consumido. Um segundo elemento diz respeito ao jogo, desviar a atenção de algumas coisas. Um terceiro elemento é a respeito de qual é a consequência econômica desse conflito em escala mundial”, conta Vladimir Feijó

Ainda há conflitos que ganham mais destaque pelo risco de acabarem envolvendo outros países, por interesses econômicos ou pelo alinhamento com o Ocidente. 

Confira a matéria completa em áudio:

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