CNA alerta para riscos ao agronegócio com tarifas de 10% impostas por Trump e defende diálogo

02 B Brasil e UE debatem acordos bilaterais no agronegócio em Brasília Foto Agência Brasil EBC

Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) manifestou preocupação com o anúncio de tarifas extras de 10% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, medida estabelecida por ordem executiva do presidente Donald J. Trump na última quarta-feira (02/04). Em nota técnica divulgada nesta quinta-feira (03/04), a entidade destacou que a sobretaxa, que entra em vigor nesta sexta (05/04), pode comprometer a competitividade do agronegócio brasileiro em setores estratégicos, como sucos de laranja, café verde, carne bovina e etanol.

EUA são terceiro maior destino do agro brasileiro

Os Estados Unidos ocupam a terceira posição no ranking de compradores do agronegócio brasileiro, atrás apenas de China e União Europeia. Em 2024, as exportações para o mercado americano somaram US$ 12,1 bilhões, representando 7,4% do total vendido pelo setor. A CNA ressaltou que, embora a dependência não seja extrema (a participação dos EUA oscila entre 6% e 7,5% há uma década), alguns produtos têm alta exposição ao mercado americano:

  • Café verde (17% das exportações do setor para os EUA);
  • Sucos de laranja (31%);
  • Carne bovina processada (63% das importações dos EUA);
  • Etanol (75% do mercado americano).

Para a CNA, a taxa extra de 10% – que eleva a tarifa média de 3,9% para 13,9% – pode reduzir a demanda por esses produtos, especialmente aqueles em que o Brasil é dominante no abastecimento dos EUA, como sucos de laranja (90% das importações resfriadas e 51% das congeladas).

Setores críticos podem sofrer mais, mas há espaço para negociação

A nota técnica da CNA classificou os produtos em níveis de exposição:

  • Críticos: Dificuldade extrema de redirecionamento (ex.: sucos de laranja);
  • Alta exposição: Desafios para realocação (café, etanol);
  • Moderada/leve: Possibilidade de diversificação, mas com perdas.

A entidade destacou que, embora o impacto seja inevitável, o Brasil está em melhor posição que concorrentes como China (tarifa de 34%) e União Europeia (20%). Além disso, a produção doméstica dos EUA em alguns setores (como sucos e carne bovina) pode se beneficiar, pressionando ainda mais as exportações brasileiras.

CNA defende livre-comércio e diálogo, mas não descarta medidas de reciprocidade

Em suas considerações finais, a CNA afirmou que ainda é cedo para dimensionar os prejuízos, mas defendeu:

  1. Prioridade à negociação diplomática para reduzir tarifas;
  2. Diversificação de mercados para reduzir dependência de compradores específicos;
  3. Uso cauteloso de medidas retaliatórias, como o PL da Reciprocidade (2088/2023), que aguarda sanção presidencial.

“A CNA defende o livre-comércio por meio de acordos que beneficiem produtores e consumidores, mas o Brasil não pode ficar refém de medidas unilaterais. É essencial buscar soluções mútuas com os EUA”, afirmou a entidade.

O próximo passo será a reação do governo brasileiro, que deve articular respostas comerciais e diplomáticas para minimizar os efeitos do “tarifaço” de Trump. Enquanto isso, setores como citricultura e biocombustíveis se preparam para ajustes.

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