Ferramenta de avaliação multiatributo revela o potencial dos bioestimulantes no aumento da produtividade agrícola

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Um estudo inovador desenvolveu uma ferramenta de avaliação multiatributo para medir com precisão o impacto de bioestimulantes no desempenho das culturas e na qualidade do solo. A pesquisa, que analisou oito propriedades agrícolas em diferentes biomas e contextos de produção no Brasil e Paraguai, demonstrou que o uso de bioestimulantes promove mudanças significativas na microbiologia do solo e no desenvolvimento das plantas, com resultados expressivos em culturas como milho, soja, algodão e cana-de-açúcar.

De acordo com Rodrigo Mendes, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, uma quantidade cada vez maior de bioestimulantes comerciais está disponível em diversas formas e composições para melhorar o desempenho das culturas. Contudo, dada a complexidade de entender os mecanismos por trás desses produtos, é essencial que a pesquisa nessa área tenha ferramentas robustas para comprovar sua eficácia em testes de campo.

O sistema, denominado APOIA-Microgeo, segue o método APOIA-NovoRural, que padroniza os resultados em escala de 0 a 1, considerando 0,7 como referência para impactos e desempenho técnico. A análise é estruturada em cinco dimensões: Cultura, Química, Física, Biologia do Solo e Saúde da Cultura, totalizando 39 indicadores. Os dados são coletados em vistorias de campo e análises laboratoriais.

Cada indicador recebe valores ajustados conforme tabelas de correspondência e equações específicas, garantindo uma análise precisa dos efeitos da adubação biológica sobre a produtividade e a saúde do solo.

Cada matriz de ponderação é ajustada conforme o indicador analisado, sempre comparando a situação de controle com as áreas onde a tecnologia Microgeo é aplicada. Os valores de impacto e desempenho técnico são transformados em escalas padronizadas de utilidade, permitindo uma avaliação objetiva. Os resultados finais são calculados por meio de equações de melhor ajuste, garantindo maior precisão na expressão dos índices.

A metodologia busca oferecer um panorama detalhado sobre a influência da adubação biológica no solo e na produtividade agrícola, contribuindo para uma gestão mais eficiente e sustentável das lavouras.

A pesquisa avaliou 39 indicadores divididos em cinco grandes temas: produção agrícola, química e física do solo, biologia do solo e saúde das plantas. Os resultados mostraram alterações consistentes na comunidade microbiana, com impactos positivos na estrutura do solo e na produtividade e rentabilidade das lavouras. Entre os temas analisados, em função da aplicação do bioestimulante, a biologia do solo teve o maior índice positivo (0,84), seguida pela produção agrícola (0,81) e pela fertilidade química (0,75).

O bioestimulante promoveu interações benéficas entre o solo e as plantas, modificando a composição de bactérias e fungos presentes na rizosfera. Espécies como Methylovirgula e Methylocapsa foram responsáveis por boa parte das transformações observadas. Essas alterações contribuíram para a redução da compactação do solo e para o aumento da matéria orgânica, favorecendo o desenvolvimento das culturas.

Conforme o pesquisador, todos os indicadores analisados foram impactados positivamente pelo uso dos bioestimulantes. Ele destaca que a tecnologia melhorou a produtividade das culturas e aumentou a receita líquida dos produtores sem elevação proporcional dos custos.

Geraldo Stachetti, também pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, ressalta que os impactos mais expressivos foram observados na biologia do solo, com efeitos diretos na saúde das plantas e no rendimento das colheitas. Este resultado corrobora aqueles que vêm sendo obtidos em larga escala com a tecnologia BioAS, também desenvolvida na Embrapa, uma maneira simples e eficiente para avaliar a saúde do solo com análises de enzimas indicadoras da atividade microbiana.

O estudo utilizou uma abordagem multiatributo, consolidando diversos indicadores para facilitar a interpretação dos resultados por produtores e técnicos agrícolas. Os pesquisadores afirmam que o uso contínuo de bioestimulantes pode potencializar ainda mais os benefícios observados, tornando-se uma solução viável para a agricultura sustentável.

Com os avanços na compreensão dos efeitos dos bioestimulantes, a tecnologia desponta como uma alternativa promissora para aumentar a produtividade e melhorar a qualidade do solo, garantindo maior eficiência na produção em favor da sustentabilidade agrícola.

Segundo Inácio de Baros, pesquisador da Embrapa Gado de Leite, este trabalho contribui fortemente para que o Brasil, dos maiores produtores agrícolas do mundo, esteja na vanguarda da transformação para uma economia verde, onde o país já é reconhecidamente uma liderança.

“A ferramenta reúne os 39 indicadores e interpreta os dados de forma comparativa entre a área agrícola manejada com a biotecnologia, com a área sem o manejo da biotecnologia. O principal objetivo prático é que a interpretação indica os pontos críticos orientando nas ações de campo que devem ser realizadas, e tangibiliza os benefícios multifuncionais do solo com seu microbioma biodiverso e ativo.

A ferramenta é simples e os indicadores já são bastante conhecidos e praticados pelos agricultores, auxiliando na tomada de decisões para realizar manejo do solo regenerativo e sustentável”, conclui Paulo D’Andréa, diretor de P&DI da Microgeo biotecnologia agrícola.

APOIA-Novo Rural
É uma ferramenta de análise de desempenho ambiental de atividades rurais, estruturada em um conjunto de 62 indicadores, distribuídos em cinco dimensões de sustentabilidade analisadas na escala do estabelecimento: Ecologia da Paisagem; Qualidade Ambiental (atmosfera, água e solo); Valores Socioculturais; Valores Econômicos e; Gestão e Administração.

A aplicação do APOIA-NovoRural requer vistoria em campo, coleta de dados e de amostras de solo e água para análise laboratorial e levantamento de informações gerenciais junto ao produtor/administrador. Como resultado obtém-se um índice geral das contribuições das atividades para a sustentabilidade do estabelecimento rural analisado.

Voltada a empresas de Assistência Técnica, empreendimentos ou produtores rurais de base empresarial, a tecnologia é de simples aplicação e permite melhorar a gestão ambiental de atividades do meio rural, indicando os pontos críticos para correção do manejo, bem como os aspectos favoráveis das atividades, contribuindo para o desenvolvimento local.

A equipe composta por Rodrigo Mendes, Embrapa Meio Ambiente, Inácio de Barros, Embrapa Gado de Leite, Paulo D’Andréa e Maria Stefânia Cruanhes D’Andréa-Kühl, Microgeo Biotecnologia Agrícola by Allterra e Geraldo Stachetti Rodrigues, Embrapa Meio Ambiente, publicou o trabalho na Frontiers in Plant Science.

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