Tomates, abóbora e ratos crescem em buraco esquecido no centro de SP enquanto obra travada afunda comércio

Uma cratera aberta na rua Quintino Bocaiúva, no centro histórico de São Paulo, virou símbolo do impasse entre a preservação do patrimônio e a urgência por infraestrutura urbana.

Com cerca de 10 metros de circunferência, o buraco está cercado por tapumes há meses, dificultando o fluxo de pedestres e o acesso às lojas da região. A via faz parte do projeto de requalificação de 23 ruas do centro, elaborado pela prefeitura da cidade de São Paulo, mas as intervenções foram interrompidas após a identificação de sítios arqueológicos.

Achados históricos travam a revitalização

As escavações revelaram vestígios de uma antiga canalização e estruturas da primeira metade do século 20. Por isso, o andamento da obra depende da análise e autorização do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), responsável por avaliar e orientar o que pode ou não ser feito nesses casos.

A prefeitura, por meio do Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo), informou que continua executando outras frentes de trabalho na região, com investimento total de R$ 63 milhões. Ruas como Quitanda, Tesouro e São João já tiveram as obras concluídas.

Comércio relata prejuízos diários

Enquanto isso, comerciantes da Quintino Bocaiúva acumulam transtornos e prejuízos. Um gerente de loja que preferiu não se identificar relatou que o movimento despencou desde que os tapumes foram instalados.

“As pessoas não passam mais por aqui. O acesso ficou difícil, e as vendas caíram muito. A gente entende que obra é importante, mas está abandonado. A prefeitura parou, o IPHAN sumiu, e quem paga o preço somos nós”, desabafou.

O buraco aberto virou abrigo para ratos, que cresceram em número e já invadem os estabelecimentos. Os lojistas têm precisado caçar os mais afrontosos que ousam invadir as dependências do comércio, enquanto aceitam conviver com os que não ultrapassam as fronteiras dos tapumes.

Além disso, o mato cresce entre os mesmos tapumes e, com o tempo, surgiram até pés de tomate e outro legume que lembra uma abóbora.

Legumes crescem na obra abandonada no centro histórico de São Paulo. Foto: Novabrasil.

Segundo o mesmo comerciante, várias lojas da rua não resistiram à queda no movimento e fecharam as portas nos últimos meses. “Está vendo aquela fileira de lojas fechadas? Há um ano todas estavam abertas”, relatou.

Ao fundo, fileira de lojas que fecharam as portas, por conta da queda nas vendas causada pela obra paralisada. Foto: Novabrasil.

IPHAN ainda não deu retorno sobre o local

Segundo os comerciantes, a última visita de representantes do IPHAN à rua ocorreu há meses. Desde então, não houve atualizações, nem retorno sobre quando o parecer técnico será emitido.

A prefeitura informou que aguarda essas definições para retomar a obra no trecho afetado, já que não pode interferir sem autorização formal.

Em outros pontos do centro, o IPHAN já autorizou o resgate arqueológico e determinou a musealização de estruturas encontradas — ou seja, a preservação no próprio local para exposição ao público.

Mas, no caso da Quintino Bocaiúva, o processo segue travado.

População espera solução e retomada das obras

Com o impasse prolongado, o cenário de abandono preocupa quem mora, trabalha e circula pela região. A falta de manutenção agrava o desgaste do centro histórico, que convive com a degradação urbana ao lado de descobertas que revelam parte da memória da cidade.

Enquanto isso, comerciantes tentam resistir. Entre entulhos, pragas urbanas e queda nas vendas, cresce o apelo por respostas concretas.

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