
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou nesta semana a taxa Selic para 14,25%, maior patamar em quase 10 anos, e o impacto no agronegócio já é sentido. A CNA revela que para o Plano Safra 25/26, o cenário é de possível suspensão de linhas de financiamento por falta de recurso e crédito mais caro para a nova temporada.
Confira um trecho da entrevista com o diretor técnico da CNA, Bruno Lucchi
Qual é o efeito mais importante que a mudança no patamar de juros do Brasil gera para o agronegócio?
Bem, o impacto geral no crédito do produtor rural. Hoje, tanto no Plano Safra, onde a gente tem as taxas equalizadas e a Selic é um importante componente para medir ali o volume de recurso necessário que o governo vai precisar para reduzir essa taxa de juros do Plano Safra e, quanto maior a Selic, mais recurso eu demandaria para ter uma equalização dessas taxas.
E no mercado privado é a mesma coisa. Os bancos privados, as tradings e todos os outros entes do mercado privado que operam no crédito rural também têm a Selic como referência e elevam essas taxas aos produtores. Então, a consequência direta que nós temos no setor é um crédito rural mais caro.
Se a taxa Selic sobe, aumenta a demanda por Plano Safra? E vai ter recurso barato no Plano Safra? Quais as expectativas que você tem?
Bem, vamos pegar um pouco do que está acontecendo nesse momento. A gente tem dados de julho até fevereiro do Plano Safra vigente. Nós temos aí, até o momento, 19% a menos de contratação comparado ao plano anterior. Tivemos, nesse momento, uma suspensão temporária em função, justamente, de não ter votado o orçamento. Esse orçamento foi votado e o volume para equalização ficou o mesmo do ano passado, que era R$ 15 bilhões. Desse R$ 15 bilhões, você tira R$ 1 bilhão para seguro. Tem agora uma parte que vem dos financiamentos de investimentos anteriores… enfim.
Vamos colocar que a gente vai ter o mesmo volume do ano passado para esse ano. Só que, no ano passado, nesse mesmo momento, quando o Plano Safra foi construído, você tinha uma Selic de 10,5%. Nós temos, nesse momento agora, já 14,25%. Antes de chegar no lançamento do Plano Safra, temos expectativa de ter mais um incremento na próxima reunião do Copom, e já existem, vamos dizer assim, bancos e empresas que fazem essa análise do crédito já dizendo que a gente vai chegar no final do ano com 15,5% de Selic, como você bem disse, a maior dos últimos anos.
Então, tendo o mesmo volume de recurso para equalização, a gente vai ter menos recurso, vamos dizer assim, para equalizar e para disponibilizar crédito rural subvencionado. Por quê? Porque a Selic vai estar muito maior do que o valor que nós tínhamos no ano passado. Então, certamente, num ano que você dependeria mais do Plano Safra, você vai contar menos com ele, se pegar esse orçamento atual.
A consequência é que a gente pode ver um esgotamento mais rápido ainda das linhas de crédito do Plano Safra?
Bem, realmente, o primeiro ponto que você disse se concretiza. Tendo o mesmo volume de recurso com a taxa maior, ou vai acabar muito rápido, ou teremos taxas de Plano Safra mais elevadas. Em vez de ter recursos subvencionados com taxas menores, nós podemos ter um incremento nas taxas vigentes, deixando o crédito rural mais caro.
No ano passado, para a gente ter o Plano funcionando perfeitamente, a gente tinha feito um cálculo de R$ 22 bilhões. Era o que seria necessário no ano passado para manter as taxas semelhantes às que foram anunciadas. E esse volume daria para funcionar sem ter interferências. Então, a gente viu que não chegou a esse patamar e nós tivemos problemas de toda a natureza. Esse ano, a gente não chegou a fazer a conta com essa nova Selic, mas certamente vai ser algo acima dos R$ 22 bilhões, R$ 24 bilhões — para você conseguir manter o que tem hoje.