
Apesar da deterioração, construtora contratada retirou operários do espaço em 02 de janeiro. Empresa recebeu até agora só R$ 2,3 milhões pelo serviço, o que equivale a 7% do valor contratado. Secretaria diz que liberação do dinheiro acontecerá no próximo mês. Área infantil degradada e com brinquedos interditados no Parque Ceret, no Tatuapé, desde 2023.
Montagem/g1/Rodrigo Rodrigues
Orçada em mais de R$ 36 milhões, a segunda etapa da revitalização do Parque Ceret, no Tatuapé, Zona Leste da capital paulista, está há três meses paralisada por falta de pagamento da Prefeitura de São Paulo à empresa contratada.
Iniciada em setembro do ano passado, poucos dias antes da eleição de 2024, a obra foi oficialmente interrompida em 02 de janeiro, dia seguinte da posse do prefeito Ricardo Nunes (MDB) para o novo mandato.
O prazo de entrega dessa nova parte da revitalização tem de 540 dias (1 ano e meio) a partir do início da reforma, datada de 23 de setembro de 2024. Isso significa que até março de 2026 tudo deveria estar pronto. Neste ano de 2025, o Ceret completa 50 anos de existência.
Porém, como a paralisação, a pasta comandada pelo secretário Rogério Lins (Podemos) não deu nenhum novo prazo para conclusão dos trabalhos.
Documentos públicos da própria gestão municipal ao qual o g1 teve acesso, o Consórcio Ceret – formado pelas construtoras Progredior Ltda. e Lettieri Cordaro Ltda. – enviou um ofício para a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (SEME) informando a paralisação, justamente pela falta de recursos financeiros por parte da pasta (veja abaixo).
Documento do Consórcio Ceret comunica gestão Ricardo Nunes (MDB) de suspensão da obra no parque.
Reprodução/g1
De acordo com dados da SEME, desde setembro do ano passado a secretaria só pagou às empresas contratadas a quantia de R$ 2,3 milhões para a execução da reforma.
O montante significa menos de 7% do total que a pasta precisa repassar à empresa responsável para que a obra seja concluída.
Em visita ao local na última sexta-feira (20), a reportagem do g1 constatou que não há mais trabalhadores da empresa atuando no espaço, apesar de várias interdições e tapumes espalhadas por várias áreas do parque.
A maior piscina da América Latina, que fica dentro do Ceret, ficou o verão inteiro interditada, em razão da interdição feita pelos operários que não foi concluída, por exemplo.
A área infantil, que estava absolutamente deteriorada quando a reportagem esteve no local ano passado, agora está ainda pior. Quase 70% dos brinquedos infantis estão quebrados e sem condições de uso, revoltando os pais e crianças que frequentam o espaço.
“É inacreditável a situação que o parque enfrenta. Tinham prometido uma reforma milionária ano passado, antes da eleição, mas a gente simplesmente não vê as coisas andarem. O parquinho que as crianças brincam está um perigo. Tudo quebrado. É um absurdo o abandono que o parque se encontra”, afirmou administradora Vanda Silva, frequentadora do espaço.
“A área de exercícios para idosos que estava enferrujada foi tirada de lá e nada foi colocado no lugar. Os banheiros estão em petição de miséria e a piscina, que era a maior atração do lugar, foi quebrada pelos pedreiros que ninguém mais viu por aqui. Se o prazo de entrega era 2026, com os atrasos nos pagamentos, quando é que tudo vai ficar pronto?”, questiona o motorista de aplicativo Gustavo do Amaral, morador das imediações.
Balanços sem assentos e escorregador quebrado no Parque Ceret, Zona Leste de SP. Obras estão paralisadas.
Rodrigo Rodrigues/g1
O que diz a Secretaria de Esportes
Por meio de nota, a pasta comanda por Rogério Lins diz que “o recurso para continuidade da obra do Ceret está na Junta Orçamentária da Secretaria Municipal da Fazenda e deve ser liberado no próximo mês”.
Segundo a secretaria, “a pendência ocorreu devido à transição entre os exercícios orçamentários de 2024 para 2025, considerando que se trata de uma obra de grande porte, com valor estimado em aproximadamente R$ 36 milhões”.
“A Secretaria Municipal de Esportes e Lazer informa que o recurso para continuidade da obra do CERET está na Junta Orçamentária da Secretaria Municipal da Fazenda e deve ser liberado no próximo mês. A pendência ocorreu devido à transição entre os exercícios orçamentários de 2024 para 2025, considerando que se trata de uma obra de grande porte, com valor estimado em aproximadamente R$ 36 milhões. Até o momento, foi liquidado o montante de R$ 2.333.811,90 na execução da obra”, afirmou.
O novo secretário de Esportes de São Paulo, Rogério Lins (Podemos) , e o prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Montagem/g1/Rede Câmara/Reprodução/Redes Sociais
Os números da reforma do Ceret
1ª etapa da reforma (parte esportiva): R$ 28,4 milhões (já concluída);
2ª etapa (piscinas, áreas infantis e idosos): R$ 36 milhões (paralisada desde 02 de janeiro);
Total da reforma: R$ 64 milhões;
Data de entrega da 2ª etapa: 540 dias (1 ano e meio – março de 2026);
Orçamento da Prefeitura de SP em 2025: R$ 125, 8 bilhões (12% a mais que em 2024);
Orçamento da secretaria de Esportes em 2025: R$ 503,60 milhões (2,68% a mais que 2024);
Inauguração do parque: 25 de janeiro de 1975 (50 anos).
Orçamento histórico da cidade
O que mais chama atenção nesse cenário é que em 2025 a Prefeitura de São Paulo tem o maior orçamento da história da cidade.
Em dezembro do ano passado, a Câmara Municipal aprovou um orçamento anual de R$ 125,6 bilhões, o que representa cerca de 12% a mais do que o aprovado para o Orçamento de 2024.
Desse montante, a secretaria de Esportes ficou com R$ 503,60 milhões. A cifra deste ano é 2,68% maior que os R$ 490,44 milhões que a Lei Orçamentária Anual (LOA) destinou para a pasta em 2024.
Duas realidades
Reforma no Parque Ceret, na zona leste, custará mais de R$ 64 milhões
A primeira etapa de revitalização do Parque Ceret começou em dezembro de 2022 e reformou boa parte da parte esportiva do local pelo preço R$ 28,4 milhões. Assim que a 2ª etapa ficar pronta, a gestão municipal terá investido mais de R$ 64 milhões na reforma do parque.
A 1ª parte da obra tinha o custo inicial de R$ 19,2 milhões, mas mudanças e atrasos no projeto deixaram o custo 47% mais caro, além de deixarem a parte infantil, as piscinas e a área de idosos de fora da revitalização.
Porém, desde junho de 2023 o g1 e os telejornais da TV Globo, como SP1 e Bom Dia SP, vêm mostrando a insatisfação dos usuários com a falta de reforma das outras áreas e degradação dos equipamentos infantis.
Em janeiro de 2024, a SEME anunciou o projeto de revitalização das outras áreas. O processo licitatório terminou em setembro de 2024, quando o Consórcio Ceret foi autorizado a iniciar os trabalhos.
Reforma de R$ 28,4 milhões no Parque Ceret deixa área de crianças e idosos fora da revitalização
Porém, os trabalhadores das empresas vencedoras só conseguiram trabalhar durante três meses, segundo narram os frequentadores do espaço.
“Desde dezembro a gente tem notado que as obras estão paralisadas. Não vemos mais trabalhadores no local há meses. Só tapumes. Enquanto isso a situação do parque só piora”, diz a administradora Luana Santos.
“O Ceret hoje vive duas realidades. Parte da área esportiva tem estrutura de primeiro mundo, mas as demais áreas, os banheiros e até a entrada do parque vivem realizada de terceiro mundo. É brinquedo quebrado, teto caindo, banheiro em condições horrorosas de estrutura. Inacreditável termos chegados nessa situação”, afirmou o aposentado Geraldo Carvalho, de 72 anos, que todo dia caminha no lugar.
Reforma do Parque Ceret, no Tatuapé, está atrasada e valor da obra subiu 47%
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