Advogados da família de Rafael Floriano protocolam Recurso de Revisão da Decisão de Arquivamento

Há um ano, a vida de Mara Adriano mudou de forma irreversível. Pelas redes sociais ela recebeu a notícia que nenhuma mãe está preparada para enfrentar: seu filho, Rafael Floriano, de apenas 15 anos, morreu. O mundo pareceu parar naquele instante. O chão desapareceu debaixo de seus pés, enquanto o vazio tomava conta de seu peito. E, é em meio a essa dor avassaladora que iniciava a busca por esclarecimentos sobre as circunstâncias que resultaram na morte do adolescente Rafael.

O jovem, que sofria de depressão, foi atingido por disparos efetuados por um policial militar após ser abordado nas proximidades do Instituto Federal Catarinense (IFC), em Ibirama, enquanto portava uma faca. Desde então, cada dia tem sido uma batalha silenciosa contra a dor e a saudade.

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E se eu faltar algum dia, tenho meus filhos e tenho a minha família por lutar por justiça. Enquanto que não houver justiça, enquanto que eu não ver esse policial sendo julgado pela morte do meu filho, que ele matou, cruelmente, a sangue-frio, o meu filho. Não vamos ficar em paz, jamais

disse Mara.

Arquivamento do inquérito

O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) se manifestou pelo arquivamento do inquérito sobre a morte de Rafael Floriano. A investigação se arrastou por meses e enfrentou dificuldades devido à falta de efetivo na Delegacia de Polícia de Ibirama.

O delegado Daniel Zucon, responsável pelo caso, entendeu que o policial agiu em legítima defesa, pois o adolescente não teria obedecido às ordens para largar a faca, mantendo uma postura imprevisível. O relatório também citou a conduta agressiva do jovem momentos antes do ocorrido e a proximidade com escolas.

Diante desses elementos, o promotor de justiça da 2ª Promotoria de Ibirama, Marco Antonio Frassetto, decidiu pelo arquivamento do procedimento investigatório, alegando não haver provas que contrariem a versão dos policiais militares. Entretanto, seis dias após a morte do adolescente, houve a divulgação de um vídeo gravado aparentemente pela câmera acoplada à farda de um dos policiais.

Nas imagens é possível perceber que Rafael levanta as mãos, rendido, antes de ser atingido pelos tiros. As imagens contradizem o relatório oficial da PM, que indicava que o jovem teria avançado contra os agentes. 

Eu sinto como se eu tivesse totalmente escuro dentro de mim, às vezes eu tento me distrair, eu tenho meus netos, esse mês vai nascer mais uma netinha, o Rafa não vai poder estar aqui para conhecer e muito menos ela vai conhecer o tio. Como diz a minha neta de quatro anos, o tio Rafa, vó, ele virou uma estrelinha, uma ardência que no meu coração, uma ardência que não tem como curar jamais

afirmou Mara.

Reilane de Brito Vilhena era amiga e cunhada de Rafael. Os dois trabalharam juntos e também compartilharam momentos em família. Naquela época, Rafael trabalhava e estudava. Nas horas vagas, os jovens saiam para lanchar, ir ao cinema, praticar esportes e passear.

E, passado um ano da morte do adolescente, o que resta é saudade. Reilane conta que as lembranças despertam sorrisos, mas também muitas lágrimas. 

Eu frequentava muito a casa dele, devido eu ser namorada do irmão dele, porque eu vivi muito ali junto com eles. Só tinha dia que ele estava bem, tinha dia que ele estava bem mal. Ele era uma pessoa muito reservada. Tinha dias que eu chegava lá, ele estava bem desanimado, então eu sempre comentava com o Gabi, vamos fazer alguma coisa esse final de semana e vamos chamar o Rafael também para ir junto. E hoje em dia já é diferente, a gente não se reúne como antigamente. Sentimos que está faltando algo junto com a gente e dói muito saber que ele não vai voltar. O Rafael era apenas um menino inocente com problemas. Jamais seria capaz de machucar alguém. Hoje eu levo as memórias dele em meu coração. Eu sei que ele está em um bom lugar agora. Mas tem dias que o peito aperta e a saudade bate muito forte

explicou Reilane.

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A tentativa de seguir em frente

O caçula da Mara não irá crescer. Ele não vai voltar para casa. Entre fotos, roupas e objetos que pertenceram ao filho, ela revive o passado, desejando um reencontro que jamais acontecerá. Mara tenta seguir em frente, mesmo sem saber exatamente como. O tempo passou, mas a dor não. O amor de mãe, incondicional, continua vivo em cada lembrança, em cada pensamento, até o fim dos seus dias.

Eu tenho todas as roupas dele aqui ainda, eu tenho o material escolar dele e eu não consigo me desfazer. Às vezes eu penso assim… ah, eu vou doar essas roupas… mas não consigo, não consigo ainda

concluiu Mara.

Embora o MP tenha arquivado o processo sobre a morte do adolescente Rafael, os advogados da família,  Diego Valgas, Ilda Valentim e Mickhael Bachmann ingressaram com o Recurso de Revisão da Decisão de Arquivamento. Além disso, caso não consigam desarquivar o inquérito, eles levarão o caso para fora do país e representarão o Brasil por ofensa aos direitos humanos. A análise pode levar cerca de 30 dias.

Ouça abaixo a reportagem completa com os depoimentos da mãe e da amiga de Rafael Floriano:

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