Mais Preta: Juliana Vicente e a força das vozes periféricas

O rap brasileiro carrega, em suas letras e batidas, mais do que apenas resistência – carrega história, identidade e, muitas vezes, a dura realidade da periferia. E foi com esse olhar sensível e profundo que a cineasta Juliana Vicente se dedicou ao documentário sobre a trajetória dos Racionais MCs, um dos grupos mais icônicos do gênero.

No episódio 3 do podcast Mais Preta, Juliana compartilha sua visão sobre o processo de criação do documentário e as camadas mais profundas do rap, mostrando que para entender a cultura do movimento é preciso, antes de tudo, entender as pessoas por trás dele. “Para entender o rap, é preciso entender as pessoas que fazem parte disso”, afirma Juliana, que busca retratar a humanidade dos artistas, além das imagens e das letras.

O documentário não se limita a uma simples biografia do grupo, mas se aprofunda na importância das mulheres na narrativa do rap. As mães dos Racionais, muitas vezes invisibilizadas nas histórias oficiais, têm um papel central no filme, sendo retratadas como figuras fundamentais na formação e identidade dos artistas. “Eu estava grávida enquanto montava o filme, com a minha filha recém-nascida ao meu lado. Esse vínculo de maternidade me fez entender ainda mais a importância dessas mulheres na construção do que hoje conhecemos como Racionais MCs”, revela a cineasta.

Além de destacar a presença feminina nas trajetórias dos Racionais, Juliana também resgata a desconstrução da imagem de masculinidade tóxica associada ao rap. O filme revela outras facetas dos artistas, que se mostram afetuosos, comprometidos com a família e com a comunidade. Em um dos momentos marcantes do documentário, o grupo participa de um encontro inesperado com seus “primos” do terreiro de seu Isaac, o que resulta numa roda de samba espontânea e revela uma conexão genuína com a música e as raízes culturais do Brasil.

Juliana também destaca histórias de mulheres que, como Eliane Meire, foram fundamentais para a organização e construção da imagem pública do grupo. “Eliane foi essencial para que os Racionais pudessem solidificar a carreira. O trabalho delas, muitas vezes invisível, foi o que permitiu que esse movimento crescesse da forma como cresceu”, explica Juliana.

Para a cineasta, o rap vai além de um grito de revolta; ele também é uma expressão de amor. O amor pela família, pela arte, pela luta e pela resistência. Esse sentimento se reflete tanto nas músicas quanto nos momentos capturados pela cineasta, como a alegria espontânea do encontro do grupo com os músicos do terreiro. “Eu fui entendendo que o rap é sobre amor. Quanto mais eu via, mais eu compreendia que esse movimento também fala sobre isso”, reflete.

Juliana Vicente segue sua jornada com um olhar único e empático, transformando o documentário em um convite para o público se conectar com a cultura periférica do Brasil. “Os Racionais são sobre isso. São sobre amor, sobre as histórias dessas pessoas que conseguiram transformar dor em arte”, conclui a cineasta.

Não perca o episódio 3 do podcast Mais Preta, disponível em todas as plataformas, e continue acompanhando a programação da Novabrasil para mais histórias e reflexões sobre a cultura brasileira.

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