Embates com aliados marcam nova estratégia de Bolsonaro rumo a 2026

Jair Bolsonaro (PL) protagonizou embates com colegas de partido e personagens relevantes da direita em declarações concedidas nesta semana.

Os gestos sinalizam que, mesmo inelegível até 2030, o ex-presidente não desistirá de recuperar seus direitos políticos e passa a atuar pela restrição a lideranças do próprio campo em preparação para uma disputa contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou outro representante de seu governo na próxima eleição. Neste texto, o site IstoÉ recapitula os movimentos de Bolsonaro.

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Acordos prioritários

Já no início da semana, o senador Marcos Pontes (PL-SP), que comandou o Ministério da Ciência e Tecnologia no governo Bolsonaro, entrou na mira do ex-mandatário.

Depois de levar uma bronca pública do ex-chefe pela decisão de se lançar candidato à presidência do Senado à revelia da bancada, que definiu apoio a Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), Pontes reforçou a cisão com Bolsonaro ao publicar, no X (antigo Twitter), um vídeo em que dizia que “pessoas arrogantes acham que já sabem de tudo, que são melhores que os outros, desprezam opiniões e ignoram sentimentos”.

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Davi Alcolumbre: franco favorito à presidência do Senado, o parlamentar tem apoio do PL de Bolsonaro

O cálculo do ex-presidente tem pouco a ver com as “opiniões e sentimentos” do aliado. Em franca campanha pela aprovação de um projeto de anistia no Congresso, que poderia livrá-lo de crimes ligados aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 e impedi-lo de ser preso, Bolsonaro precisa de amplo apoio político em Brasília.

No mandato do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) à frente do Senado, ele não viu esse plano avançar. Ainda que tenha uma bancada expressiva (14 senadores, a segunda maior da Casa), o PL fez frente à candidatura do mineiro ao lançar Rogério Marinho (RN) e travou um embate mais acirrado do que as projeções iniciais apontavam — Pacheco foi reeleito por 49 votos a 32.

O saldo para a legenda foi negativo, com espaço restrito na Mesa Diretora e pouca disposição do presidente em abraçar pautas caras ao bolsonarismo — não só a anistia, mas também os pedidos de impeachment de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). Para não repetir a receita, o grupo abraçou o pragmatismo e caminhou com o pleno favoritismo de Alcolumbre. O sonho de Pontes coloca a estratégia em risco.

De olho em 2026

A anistia é o caminho mais palpável para Bolsonaro recuperar a elegibilidade a tempo da próxima eleição — ainda que as chances sejam baixas, segundo avaliam profissionais do direito.

Para isso, ele aposta em colocar em dúvida os mecanismos que o deixam longe das urnas. Em entrevista ao canal CNN Brasil na quinta-feira, 23, comparou uma eleição sem ele ao que ocorreu na Venezuela, onde Nicolás Maduro foi eleito pela terceira vez após um Judiciário aparelhado cassar os direitos políticos de sua principal opositora.

Além da movimentação pelos acordos, o ex-presidente ainda atua para obstruir a fileira de potenciais candidatos a herdar seus votos em 2026, ao contrário ao que prega Valdemar Costa Neto, presidente do PL.

Ainda à CNN Brasil, foi pouco elogioso ao tratar do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo — a quem o próprio dirigente, mesmo mantendo a aposta em Bolsonaro, se referiu como um bom nome para concorrer ao Planalto em caso de manutenção da inelegibilidade –, e aos também governadores Romeu Zema (Novo-MG) e Ronaldo Caiado (União Brasil-GO). As críticas mais duras foram reservadas a Pablo Marçal (PRTB), em quem disse não ser capaz de confiar.

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O ex-presidente ao lado da esposa, Michelle Bolsonaro: elogiada para disputa ao Planalto

Por outro lado, distribuiu bênçãos eleitorais aos filhos, o senador Flávio (PL-RJ) e o deputado Eduardo (PL-SP) e à esposa Michelle (PL), de quem disse que poderia ser “ministro da Casa Civil”, mantendo as alternativas de sucessão em seu círculo íntimo.

Na sexta, 24, Eduardo se afirmou à disposição para o “sacrifício” de ser escolhido pelo pai para substituí-lo. “Se ele mandar, eu apoio qualquer um. [Mas] meu plano A, B e C segue sendo Jair Bolsonaro”, disse ao jornal O Globo.

O congestionamento da direita é bom para Bolsonaro e sua família, e ruim para outras lideranças do campo. A estratégia é prolongar essa escolha até os momentos finais. Neste cenário, a dispersão tende a favorecer aquele que ostentar esse sobrenome em pesquisas e viabilizá-lo eleitoralmente”, disse ao site IstoÉ Renato Dorgan, cientista político e proprietário do Instituto Travessia.

Implosão partidária?

Enquanto o ex-presidente ditava cenários, aliados ditos “ideológicos”, como o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), buscavam endossar sua posição. Questionado sobre a chance de concorrer ao Planalto se uma proposta para reduzir a 30 anos a idade mínima para se candidatar for aprovada (é a idade que ele terá em 2026), o parlamentar disse que há três planos para o cargo: “Jair, Messias e Bolsonaro”.

Mas o destaque obtido com o vídeo que ajudou o governo Lula a recuar em uma medida de fiscalização das transferências por Pix também serviu para o mineiro entrar na mira do líder da direita. Durante a semana, Bolsonaro disse haver políticos “de pequena idade, que estão se lançando já. ‘Eu sou candidato, eu vou resolver’, na base da lacração”.

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Nikolas Ferreira: ‘queridinho do bolsonarismo’, ouviu indiretas do líder

Em outro momento de crítica a um correligionário, o ex-mandatário desautorizou o senador Wilder Morais, presidente do PL em Goiás, quanto à escolha de candidatos da sigla no estado. “Wilder, não é quem você quer. Tudo vai passar por mim e, se eu puder falar com o Valdemar [Costa Neto], pelo Valdemar também. Não é um Senado em que a gente quer perseguir ninguém, mas para falar ‘opa, alguém tá passando do limite’”, disse,  em entrevista ao canal Auriverde Brasil no YouTube.

Há uma ala do PL goiano próxima ao governador Ronaldo Caiado, que se diz pré-candidato à Presidência no da oposição ao PT em 2026 e se transformou em um desafeto de Bolsonaro. Sem maiores esclarecimentos, o ex-presidente usou Goiás para demonstrar que montará palanques fiéis e ainda mais ideológicos em 2026.

As posturas dele e de seus filhos quanto a aliados que hesitam em abraçar todas as suas pautas ou se aproximam de forças desalinhadas da direita radical são conhecidas. Mas os objetivos de povoar o Parlamento com pessoas dispostas a livrar Bolsonaro de punições e a mudar a composição do Supremo parecem estar ainda mais cristalizados.

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