Poemas de amizade: grandes obras da literatura brasileira 

A amizade é um dos sentimentos mais sublimes e universais que conectam os seres humanos. Assim como o amor, ela tem sido uma fonte inesgotável de inspiração para escritores e poetas, que nos presentearam com poemas de amizade profundos e inesquecíveis. 

Na literatura brasileira, a amizade já foi celebrada em inúmeros poemas que eternizam este laço tão especial por meio de palavras e simbolismos. Ao longo da história, nossos poetas brasileiros utilizaram seus versos para abordar as várias nuances da amizade: o carinho, a cumplicidade, a saudade, a parceria e o amparo nos momentos difíceis. 

Atemporal, a amizade é retratada não apenas como um sentimento, mas também como um refúgio, um porto seguro. Por meio da poesia, esses laços são fortalecidos e celebrados, criando um diálogo entre o poeta e o leitor.

Neste artigo, convidamos você a explorar alguns dos mais belos poemas de amizade da nossa literatura: declarações de afeto que atravessam gerações e continuam a tocar profundamente aqueles que os lêem.

10 poemas de amizade da literatura brasileira

1 – “Procura-se um amigo” – Vinicius de Moraes

Vinicius de Moraes | Foto: Divulgação

“Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor… Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.

Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.

Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.”

2 – “Recado aos amigos distantes” – Cecília Meireles

A poeta Cecília Meireles | Imagem: Reprodução

“Meus companheiros amados,
não vos espero nem chamo:
porque vou para outros lados.
Mas é certo que vos amo.

Nem sempre os que estão mais perto
fazem melhor companhia.
Mesmo com sol encoberto,
todos sabem quando é dia.

Pelo vosso campo imenso,
vou cortando meus atalhos.
Por vosso amor é que penso
e me dou tantos trabalhos.

Não condeneis, por enquanto,
minha rebelde maneira.
Para libertar-me tanto,
fico vossa prisioneira.

Por mais que longe pareça,
ides na minha lembrança,
ides na minha cabeça,
valeis a minha Esperança.”

3 – Amigo – Cora Coralina

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Cora Coralina. | Foto: Reprodução.

“Vamos conversar

Como dois velhos que se encontram

no fim da caminhada.

Foi o mesmo nosso marco de partida.

Palmilhamos juntos a mesma estrada.

Eu era moça.

Sentia sem saber

seu cheiro de terra,

seu cheiro de mato,

seu cheiro de pastagens

É que havia dentro de mim,

no fundo obscuro de meu ser

vivências e atavismo ancestrais:

fazendas, latifúndios,

engenhos e currais.

Mas… ai de mim!

Era moça da cidade.

Escrevia versos e era sofisticada.

Você teve medo.

O medo que todo homem sente

da mulher letrada.

Não pressentiu, não adivinhou

aquela que o esperava

mesmo antes de nascer.

Indiferente

tomaste teu caminho

por estrada diferente.

Longo tempo o esperei

na encruzilhada,

depois… depois…

carreguei sozinha

a pedra do meu destino.

Hoje, no tarde da vida,

apenas,

uma suave e perdida relembrança.”

4 – Convite Triste – Carlos Drummond de Andrade (Livro Brejo das Almas, 1987)

Carlos Drummond de Andrade | Foto: Reprodução

“Meu amigo, vamos sofrer,
vamos beber, vamos ler jornal,
vamos dizer que a vida é ruim,
meu amigo, vamos sofrer.

Vamos fazer um poema
ou qualquer outra besteira.
Fitar por exemplo uma estrela
por muito tempo, muito tempo
e dar um suspiro fundo
ou qualquer outra besteira.

Vamos beber uísque, vamos
beber cerveja preta e barata,
beber, gritar e morrer,
ou, quem sabe? beber apenas.

Meu amigo, vamos cantar,
vamos chorar de mansinho
e ouvir muita vitrola,
depois embriagados vamos
beber mais outros sequestros
(o olhar obsceno e a mão idiota)
depois vomitar e cair
e dormir.”

5. Da brochura “Não Fosse Isso e Era Menos Não Fosse Tanto e Era Quase – Paulo Leminski, 1980

O poeta Paulo Leminski | Foto: Reprodução

“meus amigos
quando me dão a mão
sempre deixam
outra coisa

presença
olhar
lembrança calor

meus amigos
quando me dão
deixam na minha
a sua mão”

6. – Arte do Chá – Paulo Leminski (do livro Distraído Venceremos, 1987)

“arte do chá
ainda ontem
convidei um amigo
para ficar em silêncio
comigo

ele veio
meio a esmo
praticamente não disse nada
e ficou por isso mesmo”

7. Amizade – Carlos Drummond de Andrade (Livro O Avesso das Coisas, 1987)

“Certas amizades comprometem a ideia de amizade.
O amigo que se torna inimigo fica incompreensível;
O inimigo que se torna amigo é um cofre aberto.
Um amigo íntimo — de si mesmo.
É preciso regar as flores sobre o jazigo de amizades extintas.
Como as plantas, a amizade não deve ser muito nem pouco regada.
A amizade é um meio de nos isolarmos da humanidade cultivando algumas pessoas.”

8. A um Ausente – Carlos Drummond de Andrade (Livro Farewell, 1996)

“Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.”

9. Soneto do Amigo – Vinicius de Moraes

“Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica…”

10. A Mão de Um Amigo – Cordel de Braulio Bessa

Bráulio Bessa | Imagem: Jarbas Oliveira

“É justo quando um espinho
perfura seu coração
que você se aperreia
por um amigo, um irmão,
um conhecido, um parente
que sinta o que você sente
e lhe estenda a mão.

O mundo gira e tritura
feito um perverso moinho.
Cava buraco, põe pedra
no meio do seu caminho.
E nessa dura jornada
tem muita pedra pesada
que não se tira sozinho.

Avalie só o peso
da pedra da solidão,
da derrota, da tristeza,
da dor, da decepção,
de tantas pedras que a gente
vai enfrentar pela frente
quer você queira ou não.

Não adianta desviar
deixando a pedra pra trás
se lembre que o mundo gira
num movimento voraz
e lhe obriga a voltar
pra dessa vez enfrentar
o que lhe tirou a paz.

É aí nesse momento
confuso, fraco e cansado
que em vez de olhar pra frente
o cabra olha pro lado
e o medo se faz ausente
pois tem gente com a gente
mesmo tudo dando errado.

Tem gente que lhe diz tudo
que você precisa ouvir
sem sequer abrir a boca,
fazendo você sentir
que por mais que seja duro,
que o caminho seja escuro,
a gente tem que seguir.

Tem gente que lhe entende
às vezes sem concordar
que aceita os seus defeitos
sem precisar lhe mudar
e mesmo que você erre
esse alguém não vai julgar.

Gente precisa de gente
pra sentir cumplicidade
sentir amor, confiança,
segurança e lealdade.
Por isso, nesse caminho,
quem quer caminhar sozinho
não é forte de verdade.

Que o amor seja presente,
que sempre lhe fortaleça,
que a vida lhe dê amigos,
que você sempre agradeça,
que a cada sofrimento
esse belo sentimento
nasça, cresça e permaneça.

Quanto vale um amigo?

Amizade não se compra,
não se vende em prateleira.

Não tem promoção de amigo
no shopping, nem lá na feira.
Um amigo é um presente
de graça, mas faz a gente
ser rico pra vida inteira.”

Que tal compartilhar um desses poemas com seus amigos hoje? Afinal, a poesia tem o poder de fortalecer ainda mais os laços que nos unem.

Leia também “Os 20 maiores poemas de amor da Literatura Brasileira”.

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