Com força surpreendente de “Ainda Estou Aqui”, Oscar avança em sua internacionalização

Filme brasileiro logrou a maior surpresa da lista ao aparecer entre os 10 indicados a Melhor Filme. O longa francês “Emilia Pérez” se tornou o longa não americano mais indicado com história, com 13 menções

Por Reinaldo Glioche

Fernanda Torres em Ainda Estou Aqui (2)
Foto: Divulgação

O Brasil está em festa. “Ainda Estou Aqui” garantiu o País na briga pela estatueta de Melhor Filme Internacional pela primeira vez em 25 anos – o último concorrente brasileiro havia sido “Central do Brasil”, do mesmo Walter Salles. Mas não foi só isso. O filme valeu a ansiada indicação de Fernanda Torres à categoria de Melhor Atriz, repetindo o feito de sua mãe, Fernanda Montenegro, em 1999, e se tornou o primeiro filme brasileiro nomeado a Melhor Filme.

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Em 1986, é bem verdade, uma coprodução Brasil-EUA, “O Beijo da Mulher Aranha” concorreu a Melhor Filme, mas era um longa falado em inglês, com elenco e equipe americanos, exceção feita ao diretor Hector Babenco e à atriz Sônia Braga. Para efeitos práticos, o longa não ostentava o DNA brasileiro que corre nas veias de “Ainda Estou Aqui”.

A linda história de Fernanda Torres ser a segunda brasileira indicada ao Oscar de Atriz, com a primeira tendo sido sua mãe, encontra par no duo Judy Garland – indicada em 1965 e 1962 – e Liza Minelli, indicada e vitoriosa em 1973. Diane Ladd e Laura Dern, Janet Leigh e Jamie Lee Curtis também são mãe e filha indicadas ao Oscar, mas não na mesma categoria de Melhor Atriz. Mais “Ainda Estou Aqui”, com a indicação em Filme, supera “Cidade de Deus”, o longa brasileiro mais bem-sucedido no Oscar com indicações em Direção, Roteiro Adaptado, Fotografia e Montagem. Apesar das 4 nomeações, não figurou em Melhor Filme. É bem verdade que, em 2004, havia apenas cinco vagas na categoria.

Parece lógico supor que o prazo estendido de votação, em virtude dos incêndios em Los Angeles, casado à maciça campanha em prol do filme tocada pela Sony Classics, contribuíram para o upset do longa brasileiro que barrou favoritos e virtuais indicados como “A Verdadeira Dor” e “Sing Sing”, ambos presentes nas categorias de roteiro. É, sem dúvidas, uma apoteose para o cinema brasileiro.

Apoteose permitida pelo fato da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas ser cada vez mais do mundo e menos de Hollywood. o longa francês “Emilia Pérez”, com suas 13 indicações, se tornou o filme em língua não inglesa mais indicado da história. O filme fez, ainda, de sua protagonista, Karla Sofía Gascón, a primeira mulher trans indicada ao Oscar de atriz.

Outro fato significativo é a presença de duas performances em língua na inglesa, das citadas Gascón e Torres, na categoria de Atriz. Isso ocorreu apenas uma vez na história, em 1966, quando a polonesa Ida Kaminska foi indicada pelo filme tchecoslovaco “A Pequena Loja da Rua Principal” falando eslovaco e a francesa Anouk Aimée concorreu por “Um Homem e uma Mulher”.

O filme letônio “Flow” foi indicado aos Oscars de Filme Internacional e Animação. A francesa Coralie Fargeat se tornou a segunda indicada ao Oscar de Direção de maneira consecutiva. Justine Triet concorreu ano passado por “Anatomia de Uma Queda”.

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Musical, body horror e filmes pequenos

A diversidade é palavra de ordem no Oscar. O ano foi prolífero em ótimos filmes e a lista dos indicados a Melhor Filme sintetiza isso com rara felicidade. Há musicais (“Emilia Pérez” e “Wicked”), body horror (“A Substância”), blockbuster (“Duna: Parte 2”), entretenimento pensante para adultos (“Conclave”), filme pequeno sobre racismo estrutural (“Nickel Boys”), um épico existencial (“O Brutalista”), biografia de um ícone da música (“Um Completo desconhecido”) e um vencedor da Palma de Ouro (“Anora”) pela segundo ano consecutivo.

Essa pluralidade traz muitos temas relevantes para o Oscar e reforça a vocação da Academia de ensejar debates tanto no âmbito da arte como em fóruns sociais.

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