Memecoin: brincadeira ou fenômeno financeiro?

Donald Trump, o presidente eleito dos Estados Unidos com 77.303.573 votos (49,9%) lançou uma nova criptomoeda, a memecoin $TRUMP. Em apenas dois dias, a memecoin alcançou um volume total de negociação de quase US$ 13 bilhões, conforme informações do jornal The New York Times. O ativo totalizou US$ 29 bilhões em negociações até a tarde de 19 de janeiro (domingo).

A moeda de Trump apresenta uma imagem do republicano inspirada na famosa foto tirada após o atentado que sofreu em julho de 2024. Na imagem, ele aparece com o punho erguido.

Memecoin $TRUMP.

De acordo com a cotação do site CoinMarketCap, site que fornece informações e dados como preços, volumes de negociação e capitalização de mercado em criptomoedas, somente em um dia, houve uma valorização de quase 140%. E desde seu lançamento, o ativo subiu mais de 1.000%. “Minha nova memecoin chegou! É hora de celebrar tudo o que defendemos: GANHAR! Junte-se à minha comunidade especial”, escreveu o Donald Trump em seu perfil no X e na Truth Social, sua própria plataforma de mensagens.

Pegando carona no marido, Melania Trump, a esposa do republicano, lançou sua própria memecoin. Batizada de $MELANIA, a moeda meme da primeira dama norte-americana ganhou adeptos. E, no dia 20 de janeiro, a cripto figurava em primeiro lugar no CoinMarketCap.

Em seu pico, $MELANIA alcançou uma valorização de 50%, chegando a US$ 13,64. Sua capitalização de mercado é de US$ 1,63 bilhão, com 192,21 milhões de $MELANIA em circulação. Neste meio tempo, o Bitcoin, a criptomoeda mais antiga e de maior valor, mantinha-se estável em torno de US$ 105.000.

Popularidade das memecoins

A popularidade crescente de uma memecoin pode ser atribuída a vários fatores. Em primeiro lugar, é importante enfatizar que muitas dessas moedas surgiram como brincadeiras. Afinal, elas foram alimentadas por memes e tendências virais nas redes sociais. Isso atraiu a atenção de um público, em sua maior parte, jovem e conectado, que busca oportunidades de investimento que também provoquem entretenimento.

Por conseguinte, a volatilidade desse mercado proporciona a possibilidade de altos retornos em um curto período, atraindo investidores que aspiram grandes lucros.

Rodrigo Miranda, criador da Universidade do Bitcoin, a UniBtc.

Analisando a viralização das memecoins, o especialista em finanças, Rodrigo Miranda, criador da Universidade do Bitcoin, a UniBtc, com mais de 15 mil alunos, garante que Trump, com essa ação, visa fortalecer a economia. “Ao longo dos anos, sua postura evoluiu de cético a defensor ativo. Agora, ele busca criar um ambiente regulatório que favoreça o crescimento do Bitcoin e outros ativos digitais, autodenominando-se ‘criptopresidente’”.

Prova disso, segundo ele, é que Trump formou uma equipe estratégica com especialistas do setor, incluindo Elon Musk, que liderará o Departamento de Eficiência Governamental e já apoiou pagamentos em criptomoedas. Durante sua posse, Trump destacou a importância de manter os Estados Unidos como líderes no mercado financeiro digital, especialmente frente à China. “Então, a nova gestão pretende implementar regulamentações mais flexíveis para exchanges e ativos digitais, visando a adoção em massa e reduzindo a burocracia”, explica Miranda, comentando que, após sua vitória, o Bitcoin, inclusive, já alcançou novos patamares, refletindo a expectativa de um ambiente mais favorável para criptomoedas.

20 de janeiro: o marco para as criptos

“Então, a partir de hoje, 20 de janeiro de 2025, o mundo deverá observar o mercado de criptomoedas sob uma nova perspectiva”, afirma Miranda. “Um setor que gera opiniões divergentes devido à sua volatilidade, demonstrou ser tão sólido quanto os mercados tradicionais. Um mercado alternativo que está ganhando (ou já conquistou) os holofotes globais. Trump (re)apresenta o Bitcoin ao mundo. Não há como voltar atrás, amém”.

Por sua vez, Daniel Gonzaléz, analista cripto da Bitso, empresa de serviços financeiros baseados em cripto, com uma comunidade de mais de 8 milhões de clientes, comenta que, após o Bitcoin alcançar novos recordes históricos em 2024, superando os 100 mil dólares, as criptomoedas se consolidam como elementos centrais do futuro financeiro. Para ele, em um cenário de avanços regulatórios e maior adoção por governos, 2025 promete ser um ano decisivo para o setor. “O mercado das criptos já reagiu positivamente à vitória de Trump, com o Bitcoin rompendo sua máxima. As promessas do presidente incluem a criação de reservas de Bitcoin e resistência a um ‘dólar digital‘. Então, a partir de 20 de janeiro de 2025, espera-se uma nova perspectiva global sobre criptomoedas, que representam um mercado alternativo e poderoso”.

Dólar em alta

Arthur Farache, CEO da Hurst Capital.

A taxa de câmbio do dólar hoje é 6,06 reais brasileiros. A B3, bolsa de valores do Brasil, tem oscilado bastante.

Fato é que a alta do dólar impacta fortemente a economia brasileira, desvalorizando o real e encarecendo importações, o que eleva a inflação e faz o Banco Central aumentar a taxa Selic, encarecendo o crédito e diminuindo o consumo, afetando todos os setores. Neste sentido, apesar desse cenário desafiador, Arthur Farache, CEO da Hurst Capital, uma das maiores plataformas de ativos alternativos da América Latina, aponta que a volatilidade do mercado pode oferecer oportunidades em investimentos alternativos. “Entre eles estão os ativos dos Estados Unidos, que apresentam ganhos em dólar”, garante.

Ele também acredita que a nova administração de Donald Trump demonstra uma postura ousada em relação às criptomoedas, buscando criar um ambiente regulatório favorável ao Bitcoin e outros ativos digitais, em resposta à concorrência global, especialmente da China. “Com uma equipe focada em regulamentações claras para o setor, as expectativas são altas para que o Bitcoin e as criptomoedas prosperem sob uma legislação mais flexível”.

Brasil: conversas sobre regulação

No Brasil, cerca de 10 milhões de pessoas já possuem criptomoedas no Brasil. Os dados são da Fundação Getulio Vargas (FGV).

No ano passado, com a vigência da Lei nº 14.478/2022, também chamada de “Marco Legal dos Criptoativos”, e com as propostas normativas do Banco Central do Brasil em estágio avançado, o panorama regulatório brasileiro quer formar as bases para um mercado mais seguro. Toda essa intenção de segurança pode ser “sentida” em um evento realizado no dia 16 de janeiro pelo Machado Meyer Advogados, com o tema “Vamos conversar sobre o tema regulação de ativos virtuais?”.

Entre os presentes, destaque para as participações de Alessandra Rossi, sócia de bancários, pagamentos e ativos virtuais, Marcelo de Castro Cunha Filho, especialista em projetos de implementação e desenvolvimento de novas tecnologias, ambos do escritório, e Amanda Colocca, advogada de bancário e pagamentos.

Consultas públicas

Da parte do Banco Central (BC), marcaram presença Carolina Bohrer, chefe da unidade Deorf; Pedro Henrique Nascimento Silva, analista; Glener Dourado, assessor pleno; Eduardo Nogueira, chefe da divisão do Dereg; e Nagel Paulino, chefe da divisão Denor. Também marcaram presença Bernardo Srur, presidente da ABCripto, e Diego Perez, presidente da ABFintechs.

Encontro no Machado Meyer, em 16/1, tratou a importância e os desafios da regulação de ativos virtuais

Um dos pontos altos do evento foi o debate sobre a abertura das Consultas Públicas nº 109 e 110. O objetivo dessas consultas, publicadas pelo BC em novembro último, é estabelecer um marco regulatório para prestadoras de serviços de ativos virtuais (Vasps) e a execução desses serviços por outras instituições autorizadas. As propostas demonstram o comprometimento do regulador em entender esse mercado, buscando um equilíbrio entre regulação e inovação. “A CP 109 aborda a constituição e funcionamento das Vasps e das instituições autorizadas, enquanto a CP 110 foca especificamente no processo de autorização das Vasps, incluindo também corretoras de câmbio e corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários”, explicou Alessandra.

As propostas da minuta

A minuta do ato normativo da CP 109 propõe a segregação patrimonial entre ativos virtuais e de clientes. Ademais, ela trata da abertura de contas de pagamento pelas prestadoras, e regula a atuação de certas modalidades de Vasps no mercado de câmbio. E, nesse ínterim, a CP estabelece regras de combate à lavagem de dinheiro, a possibilidade de contratação de custodiante no exterior, e define limitações à cobrança de tarifas pelos serviços de ativos virtuais.

Outra novidade da norma é a criação da categoria de prestadoras. Elas estão divididas em intermediárias, custodiantes e corretoras de ativos virtuais, cada uma com respectivas atribuições e limites de capital social. As instituições já operando terão um prazo de seis meses para se adequar às novas exigências após a solicitação de autorização ao BC. O BC também busca contribuições sobre atividades permitidas e regulamentações para finanças descentralizadas, com prazo para envio até 7 de fevereiro de 2025.

As consultas públicas têm por objetivo estabelecer diretrizes que não apenas protegem o investidor, mas também ampliam as oportunidades para as empresas de criptoativos.

Memecoin: a origem

Memecoin é o nome dado a moedas digitais que têm origem em “memes” ou tendências (trends) na internet. São usadas para ganhar popularidade em torno desses movimentos, mas carecem de valor intrínseco e são investimentos voláteis. A memecoin surgiu a partir da popularização das criptomoedas, especialmente após o sucesso do Bitcoin. A primeira memecoin a ganhar grande notoriedade foi o Dogecoin. Ele foi criado em 2013 como uma paródia da cultura de memes da internet, especificamente do famoso “Doge”. O Dogecoin começou como uma brincadeira, mas rapidamente conquistou uma base sólida de apoiadores, resultando em um aumento significativo de valor e aceitação.

Em suma, uma memecoin é criada com a intenção de entreter ou gerar engajamento em comunidades online. Em outras palavras, a ideia é aproveitar o humor e a viralidade das redes sociais.

Ao longo do tempo, as memecoins passaram a ser reconhecidas como experimentos humorístico e instrumentos financeiros que podem proporcionar oportunidades de investimento. Apesar de sua natureza especulativa e da volatilidade que geralmente as acompanha, elas refletem um aspecto inovador da economia digital. Primordialmente, isso acontece por conta da formação de comunidades em torno de interesses comuns, impulsionando o valor e o uso dessas moedas.

Em suma, a ascensão das memecoins é um testemunho de como a cultura digital, a análise de mercado e a criatividade podem se unir para criar fenômenos únicos e quebrar as noções tradicionais sobre o que constitui um ativo valioso no ambiente financeiro contemporâneo.

Dicas para investidores

Do ponto de vista dos investidores, é importante avaliar a legitimidade das memecoins dentro do ecossistema das criptomoedas. Algumas delas, como o Dogecoin e Shiba Inu, conseguiram se estabelecer e até mesmo incorporar características de utilidade, como doações e serviços de pagamento. Por outro lado, existem inúmeras outras memecoins sem finalidade clara, o que levanta questionamentos sobre sua viabilidade a longo prazo.

Os investidores devem, portanto, adotar uma abordagem crítica ao avaliar memecoins. Investir em ativos altamente voláteis e especulativos requer não apenas uma compreensão profunda do ativo em questão, mas também um gerenciamento de risco adequado. Diversificação e cautela são essenciais para evitar que uma “brincadeira” se torne uma perda financeira.

*Foto: DannyOliva / Shutterstock.com.

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