O que está por trás das diretrizes do Vaticano para o uso da IA?

O Vaticano é o menor país do mundo, com uma área de aproximadamente 44 hectares. Este enclave, localizado dentro da cidade de Roma, é um centro religioso e administrativo da Igreja Católica. Ele abriga a residência do Papa e diversos locais de importância histórica e cultural, como a Basílica de São Pedro e o Museu Vaticano.

A governança do Vaticano é única, pois é uma teocracia absoluta. O Papa exerce a autoridade suprema. Além de sua relevância religiosa, o Vaticano também desempenha um papel significativo na diplomacia internacional. Isso se dá porque a país mantém relações formais com uma variedade de nações e participa de organizações internacionais. Pois eis que no dia 13 de janeiro, a governança do Vaticano publicou um documento com as diretrizes para o uso da Inteligência Artificial (IA). Importante destacar que esse é um tema sobre o qual o Papa Francisco expressou “preocupação” nos últimos meses.

Progresso

A preocupação do chefe do Estado do Vaticano é com o uso indevido da IA. “É a primeira vez que o Governatorato regula a IA, a partir de um convite do Papa Francisco, com o objetivo de gerir a mudança e canalizá-la para o progresso, respeitando a centralidade da pessoa e da justiça social e sublinhando o aspecto ético e transparente”, diz um comunicado.

Entre outras coisas, a norma prevê que uma comissão elabore regulamentos e leis sobre o assunto. A ideia é também delimitar os campos onde a IA pode ser utilizada. Por exemplo, estão os campos de saúde, artes, trabalho, administração e justiça. Só para exemplificar, consoante o documento, será possível utilizar a IA em sistemas e modelos que contribuem para melhorar a saúde da pessoa e a proteção dos cuidados sanitários. Por outro lado, os profissionais de medicina não devem sofrer prejuízos ou limitações na avaliação da tomada de decisão devido ao uso da IA.

Sigla “Feito com IA”

Outra área onde se avalia a possibilidade de utilização da tecnologia é na conservação, gestão, valorização e aproveitamento do patrimônio artístico e de museus do Estado da Cidade do Vaticano. Para a utilização da IA na reprodução, extração e criação de conteúdos audiovisuais, o documento exige que as produções contenham apenas a identificação com a sigla “feito com IA”. Além disso, tais materiais não devem prejudicar a honra, reputação, decoro e prestígio do Sumo Pontífice, da Igreja Católica e do Vaticano.

Em junho de 2024, o Papa alertou que a evolução da IA exige que haja um ambiente normativo e financeiro que limite os poderes monopolistas de poucos. Importante destacar que, em janeiro de 2024, ele já havia pedido uma regulamentação internacional da IA para evitar que seu uso de forma distorcida.

Em suma, as diretrizes do Vaticano têm como objetivo garantir que a implementação da IA esteja alinhada com os valores éticos e morais promovidos pela Igreja Católica. O Vaticano enfatiza a necessidade de uma abordagem humanista na utilização da tecnologia, que priorize o bem-estar da humanidade e evite práticas discriminatórias e injustas.

Transparência

Ademais, o documento ressalta a importância da transparência nos algoritmos e sistemas de IA, incentivando o desenvolvimento de tecnologias que sejam compreensíveis e auditáveis. O foco na educação e capacitação das pessoas que interagem com essas ferramentas é outro aspecto fundamental, com o intuito de prepará-las para os desafios e as implicações éticas que a IA pode trazer.

A nova norma também reconhece a importância do debate interdisciplinar sobre os impactos da IA. Esse é um debate que envolve teólogos, especialistas em ética, cientistas da computação e representantes da sociedade civil. Essa colaboração busca criar um ambiente mais inclusivo onde diferentes perspectivas possam contribuir para uma compreensão mais profunda das questões levantadas pela tecnologia.

O Vaticano espera que essas iniciativas contribuam para um cuidado contínuo sobre como a IA. E mais: que possam ser uma força positiva para o desenvolvimento humano, sem comprometer a dignidade das pessoas. Por fim, a governança do Vaticano reafirma seu compromisso em liderar pelo exemplo, promovendo um uso responsável e ético da tecnologia.

IA no Vaticano hoje

A Basílica de São Pedro utiliza recursos de IA para melhorar a gestão do fluxo de visitantes, monitorar a conservação da estrutura e oferecer uma experiência virtual através de um modelo digital fiel. Por lá, a IA ajuda a controlar o grande número de visitantes, otimiza a conservação ao identificar sinais de desgaste e permite tours virtuais imersivos.

Além disso, o Vaticano demonstra um forte compromisso ético em relação à IA, evidenciado pelo Rome Call for AI Ethics, de 2020, que promove princípios como transparência, inclusão e privacidade, com o apoio de gigantes da tecnologia como Microsoft, IBM e Cisco.

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