A importância de Lia de Itamaracá para a música popular brasileira

Hoje, 12 de janeiro, é aniversário de uma mulher que tem uma importância imensurável para a música e a cultura popular brasileira: Lia de Itamaracá, patrimônio vivo da cultura pernambucana.

A mais importante cirandeira do Brasil completa 81 anos e – para celebrá-la – nós trouxemos uma panorama sobre a sua vida e carreira.

Sobre Lia de Itamaracá e sua importância para a música brasileira

Nascida Maria Madalena Correia do Nascimento, na Ilha de Itamaracá – município do estado de Pernambuco, na Região Metropolitana do Recife – a dançarina, compositora e cantora de ciranda ficou conhecida como Lia de Itamaracá.

Ela recebeu o nomenos anos 1960, depois que a compositora capixaba Teca Calazans, incorporando versos cantados pela cirandeira: “Oh cirandeiro, cirandeiro oh, a pedra do teu anel brilha mais do que o sol”, acrescentou: “Esta ciranda quem me deu foi Lia, que mora na Ilha de Itamaracá”. 

Teca foi uma das primeiras pessoas interessadas na cultura popular nordestina a descobrir o talento de Lia. As duas acabaram fazendo alguns trabalhos em parceria, como o resgate de músicas em domínio público e composições.

Lia sempre morou na Ilha de Itamaracá e foi a única de 22 filhos a se dedicar à música. Segundo ela, trata-se de um dom de Deus e uma graça de Iemanjá. 

Hoje com 1,80 metros de altura, Lia de Itamaracá começou ainda criança a participar de rodas de ciranda. Trabalhou por muito tempo como merendeira em uma escola da região, enquanto dedicava-se à ciranda nas horas vagas, além de cantar e compor cocos de roda e maracatus desde a infância.

Em 1977, Lia gravou seu primeiro disco, intitulado “A Rainha da Ciranda”, pelo qual recebeu apenas 20 exemplares para distribuir e nenhum centavo. Mais de duas décadas depois, foi redescoberta, quando o produtor musical Beto Hees a levou para participar do festival “Abril Pro Rock”, realizado no Recife e em Olinda, em 1998, onde fez grande sucesso e tornou-se conhecida em todo o Brasil.

A partir daí, começou a seguir carreira artística paralela ao seu ofício de merendeira. Antes disso, Lia só era famosa em Pernambuco e entre compositores e estudiosos da cultura popular nordestina. Depois do “Abril Pro Rock”, a cirandeira passou a ser convidada para participar de apresentações pelo Brasil e no exterior. 

Em 2000 – mais de 20 anos depois daquele primeiro disco – Lia de Itamaracá lançou o seu primeiro álbum por uma gravadora, “Eu Sou Lia”, pela Ciranda Records, cujo repertório incluía coco de raiz e loas de maracatu, além de cirandas acompanhadas por percussões e saxofone. Por ocasião do lançamento, apresentou-se em outras capitais e ministrou workshops.

O disco foi distribuído na França por um selo de world music e a voz rasgante de Lia de Itamaracá chamou a atenção da imprensa internacional, que começou a batizar suas canções de trance music, numa tentativa de explicar o “transe” que o som causava no público. A partir deste momento, Lia passou a fazer turnês internacionais, recebendo muitos elogios. O jornal The New York Times a chamou de “diva da música negra”.

No Brasil, Lia também conquistou mais espaço. Participou com uma faixa no disco Rádio Samba, do grupo Nação Zumbi, e teve seu nome citado em versos dos compositores pernambucanos Lenine e Otto. Críticos de música a comparam a Clementina de Jesus.

Em 2008, lançou seu terceiro álbum “Ciranda de Ritmos”.

A cirandeira Lia de Itamaracá | Imagem: Reprodução

Lia de Itamaracá também participou de diversos filmes: 

– O curta-metragem “Recife Frio”, em 2009, do cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho, em que aparece cantando sua famosa ciranda “Eu Sou Lia” (composta pra ela por Paulinho da Viola) acompanhada de “Minha Ciranda” (de Capiba) e “Preta Cirandeira” (de Neres e Saúde);

  • O curta-metragem documental Formiga Come do Que Carrega, de Tide Gugliano, em 2013;

– E o famoso longa “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho, em 2019. 

Ainda em 2019, Lia de Itamaracá lançou o seu mais recente álbum “Ciranda sem Fim”.

Hoje, Lia de Itamaracá é considerada Patrimônio Vivo da Cultura de Pernambuco, por sua contribuição para o desenvolvimento sociocultural do Estado de Pernambuco. 

Foi agraciada também com a Ordem do Mérito Cultural pelo Ministério da Cultura, e recebeu uma das maiores honrarias de toda sua trajetória artística: o título de Doutora Honoris Causa, pela Universidade Federal de Pernambuco, pelos serviços prestados à cultura de Pernambuco e do Brasil.

Viva, Lia de Itamaracá, patrimônio vivo da nossa cultura!

The post A importância de Lia de Itamaracá para a música popular brasileira appeared first on Novabrasil.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.