Quem limpa os pés de Maria Bethânia? — Por Júlio Luz

@arielcavotti

Há algo sagrado em cada passo que Maria Bethânia dá no palco. É um ritual simples, quase invisível para alguns, mas profundo para os olhos atentos: seus pés descalços tocam o chão como se visitar em prece, em comunhão com o espaço e o tempo, com o Brasil que ela carrega em sua voz e em sua essência. Em cada show, ela nos entrega não só o canto, mas uma conexão antiga e visceral, uma força que vem da terra.

Bethânia, ao pisar descalça nos palcos – seja em um teatro intimista ou em um estádio grandioso – parece nos lembrar do que somos feitos: de chão, de raízes e de saudade. Seus pés livres falam mais do que palavras poderiam. Na poesia silenciosa dos passos, ela nos mostra que o palco não é só cenário, mas um altar onde corpo e alma se encontram.

Nesse ritual, os pés não são apenas uma base física; eles são, também, um canal de energia, uma expressão.

Assim como Jesus lavou os pés de seus discípulos em um gesto de humildade e carinho, há algo de divino na presença descalça de Bethânia. É como se ela permitisse que o palco a limpasse, a purificasse, para que ela pudesse devolver ao público uma voz renovada. E nesse encontro, onde quem dá e quem recebe se confunde, ficamos todos em estado de graça.

Seus pés, quase silenciosos, pisam as tábuas como se buscassem ali, na aspereza e na simplicidade do chão, uma forma de lembrar-se do início, de um tempo em que, antes de ser Maria Bethânia, ela era apenas uma menina correndo pelos quintais de Santo Amaro.

Júlio Luz (Diretor, Ator, Professor, Produtor e Assessor de Imprensa)

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