“Amor Festa Devoção.” – por Renata R. Oliveira

Álbuns que marcam os 45 anos de carreira de Maria Bethânia, e são dedicados a Dona Canô, mãe de Bethânia, e um dos seres de maior luz que já passou por essa terra, não atoa, sendo capaz de gerar, educar e presentear o mundo com duas das maiores vozes da nossa música. Com um total de 46 canções é possível passear pelas diversas faces da artista que consegue transmitir, todas as intenções e interpretações de cada canção.

O ouvinte é primeiramente guiado para a , logo na primeira faixa Bethânia faz até o mais descrente dos homens arrepiar com a interpretação de “Santa Bárbara“, composição do brilhante Roque Ferreira, a cantora que transmite toda a força de Iansã consegue mostrar toda sua devoção nessa canção comovente e encantadora. Bethânia também nos presenteia com o poema de “Olho de Lince” de Waly Salomão, trazendo a intensidade e paixão da Menina dos olhos de Oyá.

Até a sétima faixa seguimos com a trajetória de da cantora com as canções “Feita na Bahia”, “Coroa do Mar”, “Encanteira” e “Linha de Caboclos”, sendo as duas primeiras também composições de Roque Ferreira e as outras de Paulo César Pinheiro. A oitava faixa entrega toda sedução e magnetismo da Abelha Rainha, música de composição de Adriana Calcanhotto, “Tua“, ao ser interpretada por Bethânia vem mostrar aquilo que só a baiana tem. Para arrematar nossos corações o primeiro disco coloca na sequência “Fonte”, composta por Jorge Portugal e Saul Barbosa e a inebriante “Explode Coração” de Gonzaguinha. Essa sequência de canções possibilita a compreensão dessa legião de apaixonados pela estrela santo-amarense.

Uma composição de Caetano não poderia faltar, e Bethânia entrega tudo e mais, em “Queixa“, e uma frase da própria canção explica exatamente como o fã se encontra nesse momento “Senhora, e agora, me diga onde eu vou”, obviamente seguimos ouvindo, suspirando e cantando. Seguimos passeando pelo amor e intensidade de Bethânia e chegamos em “Até o Fim“, composição de Arnaldo Antunes e César Mendes, canção com toda intensidade da dualidade do sentimento, interpretada como apenas uma filha de
Iansã poderia fazer
. Vinicius de Moraes também se faz presente emprestando a composição “Serenata do Adeus” para que Bethânia, que dá vida a cada palavra, a cada sentimento.

Nesse momento é de se pensar que já não é possível ir além, surpreender mais e deixar todos sem folego, e surge Maria com a visceral “Balada de Gisberta”, composição de Pedro Abrunhosa, que homenageia a travesti brasileira assassinada no Porto. Como não poderia ser diferente, Bethânia protesta cantando, dá vida e mostra as feridas daquela que já não pode falar por si. A canção que encerra o primeiro disco é também uma composição de Caetano, leve, linda e que acalma o coração que estava sufocado com a intensidade da canção anterior, e agora recebe a leveza e paixão da poesia que só Caetano consegue atingir.

O segundo disco começa com uma composição encantadora de Bororo que parece descrever a própria interprete, que é sim toda Bahia. Seguimos o disco com a canção “Estrela“, de Vander Lee, e chegamos em trem do desejo e da vontade que esse disco nunca acabe. As canções que vem a seguir mostram o Brasil de um povo simples e encantador, e Bethânia, como boa menina nascida no interior consegue transportar quem ouve a cada cenário dessas canções. A junção gostosa das canções “É o Amor”, de Zezé Di Camargo, e “Vai dar Namoro”, composição de Chico Amado e Dedé Badaró consegue mostrar para o mundo o motivo que fez os corações derreterem por essa baiana e o corpo arrepiar com os gracejos no tom.

Caymmi não poderia ficar de fora dessa perfeição e a canção “O Nunca Mais”, bem como a composição de Silvio Caldas, “Andorinha“, faz chorar uma saudade que se quer estamos vivendo tamanha é a emoção que Bethânia transmite ao cantar. “Bandeira Branca” e “Domingo” ainda completam os amores doloridos, mas “alguém avise à dor que não insista” e já estamos prontos para mais uma composição brilhante de Gonzaguinha, “O Que É o Que É”, e apenas que já presenciou Bethânia cantando essa canção ao vivo pode compreender que é mais que um show, é cura.

Para cantar a fé e a festa da fé, temos “Encanteria” e é impossível saber se Bethânia canta a canção ou a canção canta Bethânia dada a intensidade que se forma. Como tudo que é bom termina a última faixa do disco é mais uma canção de Caetano eternizada na voz da nossa Rainha, “Reconvexo” que dispensa qualquer comentário tamanha a perfeição. Não é possível falar de Amor, Festa e Devoção sem mencionar o trabalho impecável de Bia Lessa que dirige o show, e orientada por Bethânia compõe de forma simples e impecável o cenário para nossa Rainha brilhar.

A exigência de Bethânia também fica clara com a composição da banda, dessa vez liderada pelo violonista, guitarrista e arranjador Jaime Álem e composta pelo maravilhoso Jorge Helder (baixo e violão), Carlos César (bateria e percussão), Marco Lobo e Reginaldo Vargas (percussão) e Vítor Gonçalves (piano e acordeom).

Os discos são impecáveis, intensos e cheio daquela coisa gostosa que só Bethânia consegue transmitir em quase uma hora e meia e canções cuidadosamente selecionadas que permitem aquele que ouve o todo da experiência de Amor, Festa e Devoção.

Renata R. Oliveira.

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