“Brasileirinho” – por Rayssa Santos.

Lançado em 2003, “Brasileirinho” é o álbum que inaugura o selo Quitanda – selo desenvolvido em parceria com a gravadora Biscoito Fino para que a cantora Maria Bethânia pudesse conceber seus projetos “de forma livre, sem pressão do mercado”.

O álbum levanta a verdadeira bandeira do patriotismo ao mesclar aspectos dos vários brasis que há no Brasil, através do nosso cancioneiro popular e clássicos poemas da nossa literatura, reafirmando nossa identidade sociocultural rica em diversidade.

O nome do disco no diminutivo demonstra que Bethânia quer representar ali, dentro de sua afetividade pelo país, “um pouquinho do Brasil” que lhe é íntimo e familiar. Tanto que as temáticas apresentadas no álbum passeiam justamente pelos eixos de formação do Brasil como o Brasil que conhecemos hoje.

Logo no início, notamos a herança africana na faixa de abertura do álbum, Salve As Folhas”, quando Bethânia canta “kò sí ewé, kò sí òrìsá”, há a valorização da religiosidade afro-brasileira como importante elemento para a compreensão da nossa formação sociocultural. Com a presença do poema “O Descobrimento”, de Mário de Andrade, onde o eu-lírico que se encontra no sul do país se recorda de outra personagem no norte do país e finaliza sua divagação com “esse homem é brasileiro que nem eu”, Bethânia quer nos dizer que, norte ou sul, branco ou preto, não importa a origem, o álbum está falando de/para/com brasileiros de igual modo.

Nossa origem indígena também está presente, através da “Cabocla Jurema”, “Ponto de Janaína” e “Cantiga para Janaína”, canções de domínio público que demonstram a pesquisa de Maria Bethânia para um repertório que instigasse essa busca de identidade nacional. Temos até então uma forte ligação entre indígena e negro.

As faixas Santo Antônio, Padroeiro do Brasil, São João Xangô Meninoe Ponta de Macumba”, trazem o sincretismo, o cruzamento cultural religioso, a representação do povo brasileiro que mistura a religião europeia-católica e a afro-brasileira.

Para encerrar o disco, Bethânia traz “Melodia Sentimental”, do compositor Heitor Villa-Lobos. O clássico – interpretado de forma errônea, mas belíssima, como afirmou seu irmão Caetano -, fecha o disco com a reflexão de que o erudito e o popular são elementos que convivem, contrapõem-se e completam-se na incessante construção da identidade sociocultural brasileira marcada pela diversidade.

Dessa forma, com a mescla das tradições culturais-étnicos-raciais, Brasileirinho representa a identidade brasileira que é híbrida, coletiva e, ao mesmo tempo, individual nos seus vários aspectos.

Em 2004, foi lançado o DVD Ao vivo, mostrando 2 semanas de shows realizados no Canecão no Rio de Janeiro. Produzido pela própria Maria Bethânia e com a direção de Bia Lessa e Jaime Além, o show ao vivo contou com participação de Miucha, Nana Caymmi, Uakti, Tira Poeira, Ferreira Gullar.

Como diriam no twitter (atual X), Brasileirinho é o puro suco do Brasil.

Rayssa Santos.

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