Mais Preta: Ana Maria Gonçalves fala sobre música, literatura e memórias afetivas

Este episódio do podcast Mais Preta, apresentado por Adriana Couto, traz uma conversa intensa e envolvente com a escritora Ana Maria Gonçalves. Através de suas palavras, Ana compartilha como a música, a culinária, as memórias familiares e as tradições se entrelaçam em sua vida, formando uma profunda conexão com sua ancestralidade e com a cultura afro-brasileira.

A escritora reflete sobre sua relação com a cozinha, espaço que, além de ser o local de preparação das refeições, era onde a família se reunia para conversar, cantar e compartilhar momentos de afeto. Para Ana, a cozinha é, até hoje, seu cômodo favorito, pois representa um lugar de acolhimento e cuidado, como ela aprendeu com sua avó. A comida, mais do que um simples ato de nutrição, era uma forma de se conectar com os outros e com sua história.

Essa relação com o afeto e a memória se estende à sua paixão pela música, que, segundo ela, serve de proteção e inspiração para seu processo criativo. Ana fala sobre como, ao se preparar para escrever, muitas vezes se refugia nas músicas que a tocam profundamente, como as de Itamar Assumpção, cuja obra se tornou mais presente em sua vida após uma pesquisa para um espetáculo sobre o cantor e compositor. A música, para ela, não é apenas um pano de fundo, mas uma paisagem sonora, um espaço seguro que a permite escapar da realidade e se entregar à criação literária.

A conversa também aborda questões de identidade, especialmente a sexualidade das mulheres negras, frequentemente marginalizadas e despojadas de seus desejos e corpos. Ana menciona a importância de músicas de artistas como Alcione e Liniker, cujas canções empoderam a mulher negra e celebram sua liberdade sexual. Em particular, a música “Além da cama” de Alcione é citada, simbolizando a mulher que se entrega aos seus desejos sem vergonha, uma resistência contra a repressão religiosa e social que muitas vezes limita a expressão da mulher negra no Brasil. Para Ana, figuras como Alcione são essenciais para afirmar a identidade e a autonomia da mulher negra, mostrando que a liberdade de ser quem somos passa pela afirmação de nossos corpos e desejos.

A literatura e a música se entrelaçam de maneira poderosa na conversa, com Ana explicando como essas influências ajudaram a formar o universo de seu livro Defeito de cor. Ela compartilha como, durante o processo de escrita, a música foi uma ferramenta de escapismo, ajudando-a a se entregar ao ato criativo. Ao mesmo tempo, Ana reflete sobre como sua mãe, uma mulher que também era costureira, teve um papel essencial em sua jornada literária, incentivando sua imaginação e acompanhando todo o processo de criação. A escritora revela que até hoje escreve para agradar sua mãe, que sempre foi uma presença constante e inspiradora em sua vida.

O episódio também aborda a exposição Defeito de cor, que a autora realizou, trazendo obras de arte de artistas negros e negras que dialogam com a temática do livro. A exposição, que já passou por locais como o Rio de Janeiro e Salvador, agora chega a São Paulo no Sesc Pinheiros. Com a curadoria de Ana, a mostra reúne uma variedade de linguagens artísticas, como pintura, fotografia, escultura e filmes, todas com foco nas questões tratadas em seu romance. A exposição não exige que o público tenha lido o livro, mas permite que o espectador, ao vivenciar a arte, absorva camadas novas de entendimento, seja do livro ou da própria exposição. O trabalho musical do Tiganá Santana, com sua sonoridade envolvente, também faz parte da exposição, criando uma experiência sensorial única, onde a música, a arte visual e a literatura se combinam.

A importância da arte negra na construção da identidade e na resistência cultural é um tema central neste episódio de Mais Preta, onde Ana Maria Gonçalves compartilha sua visão sobre como a música, a literatura e as artes visuais trabalham juntas para dar visibilidade e voz ao povo negro.

Com seu trabalho, Ana não só celebra a cultura afro-brasileira, mas também promove uma reflexão profunda sobre a luta pela liberdade e pelo reconhecimento da mulher negra em todas as suas dimensões.

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