Segue o fio: A importância de João Bosco para a MPB

Você tem noção da importância de João Bosco – aniversariante do dia – para a música popular brasileira? 

Seu violão característico, muito bem executado, com ritmo e harmonias brilhantes, somados aos seus arranjos originais e às letras com discursos e mensagens contundentes de suas canções, fazem de João Bosco um artista único e original, um dos maiores de nossa MPB.

Com mais de 50 anos de carreira e parceiros como Aldir Blanc, Vinicius de Moraes, Antônio Cícero, Waly Salomão, Chico Buarque, Belchior, João Donato, Caetano Veloso e Capinan, foi regravado também por grandes nomes como Elis Regina, Simone, Quarteto em Sy, Milton Nascimento, Maria Creuza, Ney Matogrosso e Emílio Santiago.

Então segue a thread (ou melhor, segue o fio, porque – afinal – somos brasileiros!) pra entender mais sobre a contribuição do cantor, compositor e violonista mineiro – que completa 78 anos hoje – para a nossa história!

João Bosco nos anos 70 | Imagem: Acervo Sesc Audiovisual/Divulgação

1 – Infância Musical e Primeira parceria luxuosa de João Bosco

Nascido em 1946, na cidade de Ponte Nova, Minas Gerais, em uma família repleta de músicos,  João Bosco começou a tocar violão aos 12 anos. 

Seu irmão mais novo é o também cantor e compositor Tunai, falecido em 2020 e autor de sucessos como Frisson (parceria com Sérgio Natureza) e Certas Canções (parceria com Milton Nascimento).

As primeiras grandes influências de João Bosco foram os sambas-canções de brasileiros como Ângela Maria e Cauby Peixoto e o rock’n roll de estadunidenses como Elvis Presley e Little Richard. Sua primeira banda, inclusive, chamava-se X-Gare, inspirada na canção She’s Got It, do Little Richard. 

Na juventude, quando mudou-se para Ouro Preto para estudar Engenharia Civil, foi também influenciado pelo jazz, a bossa-nova e o tropicalismo. Tudo isso formou o grande artista que conhecemos hoje.

Em 1967, conheceu por meio do pintor Carlos Sciliar, João Bosco conheceu o grande poeta Vinicius de Moraes, que veio a ser o seu primeiro parceiro musical. Juntos, compuseram grandes sucessos como Samba do Pouso (primeira canção em parceria), Rosa dos Ventos e O Mergulhador.

Aldir Blanc e João Bosco | Foto: Reprodução

2 – João Bosco e Aldir Blanc: um dos maiores encontros da MPB

Já em 1970, João conhece aquele que viria a ser o seu maior parceiro, com quem compôs mais de cem canções ao longo da vida: Aldir Blanc. A dupla é responsável por algumas das canções mais importantes da MPB e esse encontro é um dos mais produtivos da história da nossa música.

Como cada um morava em uma cidade – Bosco em Ouro Preto e Blanc no Rio de Janeiro – a primeira leva de parcerias deu-se por correspondência, como é o caso de Agnus Sei, primeira canção da dupla a ser gravada, lançada como lado B de um compacto do jornal O Pasquim, em 1972. No lado A, estava a ainda inédita e depois clássica Águas de Março, do – já consagrado – Tom Jobim.

Também em 1972, a dupla de artistas conheceu a cantora Elis Regina, que gravou o primeiro sucesso de João Bosco e Aldir Blanc em sua voz: a canção Bala com Bala, no LP Elis

A partir dali, Bosco e Blanc tornam-se nacionalmente conhecidos e a Elis tornou-se uma das principais intérpretes da dupla, tendo gravado mais de 20 composições dos dois ao longo de sua carreira.

3 – Primeiros álbuns já fechados de clássicos da MPB

Em 1973, João Bosco formou-se em Engenharia e mudou-se definitivamente para o Rio de Janeiro, onde gravou o seu álbum de estreia, que levou o seu nome. Entre as principais canções do disco, a maioria em parceria com Aldir Blanc, estão – além da já famosa Bala com Bala Tristeza De Uma Embolada, Quilombo e Boi.

Em 1974, Elis Regina incluiu mais canções de João Bosco e Aldir Blanc em seu novo álbum, que logo se tornaram clássicos da MPB: O Mestre-Sala dos Mares, Dois Pra Lá, Dois Pra Cá e Caça à Raposa.

Em 1975, João Bosco lançou o seu segundo álbum – Caça à Raposa – com todas as canções em parceria com Aldir Blanc e trazendo letras que traçam um cenário da cultura brasileira, expondo contrastes entre elementos políticos, culturais e sociais do Brasil. 

Entre elas, destaque para os clássicos alavancados no ano anterior por Elis, além de outros sucessos como: De Frente pro CrimeEscadas da PenhaBodas de PrataKid Cavaquinho

Em 1976, em seu terceiro álbum – Galos de Briga – todas as canções também são parcerias com Aldir Blanc, e entre elas, temos as clássicas: Incompatibilidade de Gênios, O Ronco da Cuíca, Transversal do Tempo, Latin Lover e Rancho da Goiabada. Só sucessos! O disco conta com aparticipação de Ângela Maria em uma das faixas.

Em 1977, João lança mais um disco só com parcerias da dupla: Tiro de Misericórdia. Entre as canções: Bijuterias, Vaso Ruim Não Quebra e Falso Brilhante.

João Bosco com a cantora Elis Regina Imagem: Reprodução

4 – O Bêbado e a Equilibrista

Em 1979, lança o disco Linha de Passe, que conta – além do clássico da faixa-título – com aquele que viria a ser um dos maiores sucessos da carreira de João Bosco e de Aldir Blanc: O Bêbado e a Equilibrista

A canção, eternizada na voz de Elis Regina (que a gravou no mesmo ano, em seu disco Essa Mulher), virou um hino sobre o período da anistia no Brasil e o início do declínio da ditadura militar. 

A letra possui várias referências a eventos e personalidades ligadas ao período duro de repressão pelo qual o Brasil estava passando: “Marias e Clarices” são referências à Maria, filha do metalúrgico Manuel Fiel Filho, e à Clarisse Herzog, esposa do jornalista e dramaturgo Vladmir Herzog, ambos mortos nos porões do DOI-CODI, por fazerem parte da oposição ao governo militar. 

“A volta do irmão do Henfil”, faz referência ao sociólogo e ativista Betinho, irmão do cartunista Henfil, que esteve exilado de 1971 até 1979, quando pôde, finalmente, voltar ao Brasil. 

Bosco conta que, inicialmente, a ideia era compor uma canção em homenagem a Charles Chaplin, que havia morrido pouco tempo antes. Apesar de ser um samba, a harmonia da música tem passagens melódicas inspiradas na música Smile, escrita por Chaplin para o filme Tempos Modernos

Mas Aldir sugeriu, por conta dos tempos duros de repressão que ainda se vivia no Brasil, que fosse um personagem chapliniano, que, no fundo, falasse da condição dos mortos, torturados e exilados pela ditadura. Por isso: “Um bêbado trajando luto, me lembrou Carlitos”.

João Bosco em seu site oficial Imagem: Flora Pimentel

5 – Levando a música brasileira para o mundo e fazendo novas parcerias

Em 1982, João começou a fazer turnês internacionais. Em 1983, apresentou-se no XVII Festival de Montreux, ao lado de Caetano Veloso e Ney Matogrosso. O show foi registrado no LP Brazil Night – ao vivo em Montreux

No mesmo ano, realizou sua centésima apresentação em shows, lançada no disco João Bosco ao vivo: centésima apresentação e começou a diversificar suas parcerias, deixando de compor exclusivamente com Aldir Blanc.

Compôs com nomes como Capinan (o clássico Papel Marché); Abel Silva; Belchior; Martinho da Vila; Waly Salomão e Antônio Cícero (o clássico Trem Bala); Caetano Veloso e Chico Buarque.

Francisco Bosco e João Bosco | Foto: Reprodução Facebook

6 – De pai para filho

Em 1997, o artista começa a compor em parceria com seu filho, Francisco Bosco e lança dois discos inteiros de canções dos dois: As Mil e Uma Aldeias (de 1997); Na Esquina (de 2000); Na Equina Ao Vivo (2001); e Malabaristas do Sinal Vermelho (2003).

No mesmo ano, é lançado seu Songbook João Bosco, com artistas de peso interpretando os grandes sucessos de sua carreira, como Milton Nascimento, Chico Buarque, Edu Lobo, Zizi Possi, Luiz Melodia, Zélia Duncan, Alcione, Moska, Arnaldo Antunes, Chico César, entre outros. 

É nesse disco que João Bosco convida seu velho amigo e parceiro Aldir Blanc para – depois de anos sem se encontrarem – gravarem a nova versão do clássico O Bêbado e o Equilibrista. A partir daí, os dois retomam a parceria e voltam a compor juntos.

Em 2009, foi a vez do álbum Não Vou Pro Céu, Mas Já Não Vivo No Chão, primeiro de inéditas desde 2003. Entre as canções, parcerias com Aldir Blanc como Sonho de Caramujo, Navalha e Mentiras de Verdade. Nesta última, contam a sua versão sobre o distanciamento da dupla. 

João Bosco em foto da capa do seu mais recente álbum ‘Boca cheia de frutas’ — Foto: Victor Correa / Divulgação

7 – João Bosco em plena atividade

Em 2012, João Bosco lançou o CD e DVD João Bosco – 40 anos depois, reunindo sucessos de sua carreira e convidados como Chico Buarque, Milton Nascimento, João Donato e  Roberta Sá. O disco foi indicado ao XIII Grammy Latino, na categoria Melhor Álbum MPB.

Em 2017 Bosco gravou o álbum Mano Que Zuera, composto por 11 canções, entre elas algumas parcerias inéditas com o filho, como Onde Estiver, além de Sinhá, parceria com Chico Buarque e o encontro inédito com Arnaldo Antunes na composição Ultraleve, onde a filha, Júlia Bosco, faz uma participação. 

Também em 2017, celebrando seus 70 anos, recebeu o Prêmio Excelência da Obra, no Grammy Latino, em Las Vegas.

Os últimos lançamentos de João Bosco, em plena atividade até os dias atuais, foram os álbuns: Abricó-de-Macaco (2020); Canto da Praya (em parceria com Hamilton de Holanda, em 2020); e o recém-lançado álbum de inéditas Boca Cheia de Frutas (de 2024).

Viva, João Bosco e toda a sua contribuição para a música popular brasileira!

por Lívia Nolla

The post Segue o fio: A importância de João Bosco para a MPB appeared first on Novabrasil.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.