O homem que jogou quase US$ 1 bilhão em bitcoins no lixo

Um juiz encerrou uma saga que se arrastava desde 2013: um homem buscava conseguir autorização para escavar um aterro sanitário em Newport, no País de Gales, Reino Unido, onde supostamente um HD, com a única chave para uma quantidade enorme de bitcoins, teria sido jogado em 2013.

  • Flappy Bird, “crypto bros”, mentiras e NFTs
  • Cripto mineradores inundam mercado com GPUs usadas

Segundo o dono do disco rígido perdido, a quantidade de bitcoins perdidos varia entre 7.500 e 8.000, o que renderia aproximadamente US$ 771,34 milhões, ou ~R$ 4,7 bilhões (cotação de 14/01/2025).

Decisão de juiz impede que dono de HD perdido com chave para bitcoins escave lixão, por riscos ao Meio Ambiente (Crédito: Shutterstock)

Decisão de juiz impede que dono de HD perdido com chave para bitcoins escave lixão, por riscos ao Meio Ambiente (Crédito: Shutterstock)

O caso dos bitcoins perdidos

Em quase 20, as criptomoedas como Bitcoin, Ethereum, Solana, Dogecoin e cia. renderam todo tipo de histórias, algumas absolutamente ridículas, e o caso das moedinhas virtuais no lixão galês seria só mais uma, se não estivesse se arrastando por mais de uma década, com James Howells tentando, de todas as maneiras, conseguir permissão para escavar o aterro em busca do tal HD.

O caso teria acontecido no dia 5 de agosto de 2013, quando, segundo a versão incluída no processo, Howells tinha dois HDs, um com a chave criptográfica para a carteira com os bitcoins que ele teria minerado em 2009, e outro vazio. Sua intenção era jogar o que não tinha dados fora, mas teria se confundido e colocado o com a chave em um de dois sacos de lixo.

Howells teria então pedido a Halfina Eddy-Evans, sua namorada na época, para levar o lixo até o aterro, o que ela se recusou a fazer, dizendo que isso era tarefa dele. Howells não se incomodou, e ele mesmo levaria o lixo no dia seguinte, quando ele checaria se o HD que ele descartou era o correto.

Pela manhã, ele soube que Evans havia mudado de ideia e levado o lixo, e como Murphy não perdoa quem vacila, Howells descobriu que ele havia jogado fora o HD com a chave para os bitcoins. Na época em que fez a primeira requisição para vasculhar o aterro, em novembro do mesmo ano, ele disse que a carteira agora trancada continha 7.500 bitcoins, que então valiam cerca de US$ 7,5 milhões. Hoje, ele diz que são 8.000.

Considerando a flutuação da criptomoeda nesse meio tempo, sua carteira valorizou e desvalorizou várias vezes de forma agressiva; considerando as cotações dos últimos meses, um único bitcoin foi de US$ 20 mil em fevereiro de 2023, a US$ 100 mil em dezembro de 2024; hoje, vale pouco mais de US$ 96 mil.

No processo movido em maio de 2024 por Howells contra o Conselho Municipal da cidade de Newport, Howells buscava conseguir autorização para escavar uma área pré-determinada, onde o HD poderia estar, seguindo todos os procedimentos de segurança e ambientais, para que o hardware pudesse ser restaurado e os dados recuperados. Ele inclusive se prontificou a dividir o valor da carteira com o condado, o que ele entendia como uma forma de ajudar a comunidade.

Aterro sanitário do condado de Newport, em foto aérea de 2022 (Crédito: Matthew Horwood/Getty Images)

Aterro sanitário do condado de Newport, em foto aérea de 2022 (Crédito: Matthew Horwood/Getty Images)

No entanto, o juiz Andrew Keyser, que preside a Corte de Tecnologia e Construção de Gales, decidiu por um ponto final na história, proibindo quaisquer tentativas de escavar o lixão.

Na sentença (cuidado, PDF), o magistrado concorda com a defesa, de que Howells não tem “nenhuma chance real” de recuperar o HD perdido em um estado que permita a recuperação dos dados, além do fato de que todo o processo de busca seria custeado pelo município, que teria que deslocar técnicos de escavação para a tarefa, mediante uma suposta recompensa na forma de parte dos valores em bitcoins contidos na carteira, que o reclamante não tinha mais acesso, e nem era certo de que o recuperaria.

O juiz Keyser também apontou para o fato óbvio, um lixão é um lugar perigoso por definição, o de Newport contém atualmente cerca de 350 mil toneladas de lixo, e recebe aproximadamente 50 mil por ano. Cada área de depósito, uma vez cheia, é compactada e coberta com material inerte, para evitar o vazamento de gases e líquidos, como metano e chorume, o primeiro um dos principais componentes do Efeito Estufa.

A decisão do júri é baseada no risco ao Meio Ambiente representado pela escavação de uma área considerável, que segundo depoimento de Howells, abrangeria 2 mil metros quadrados e de 10 mil a 15 mil toneladas de lixo, e a incerteza de que os dados poderiam ser realmente recuperados, assim, o caso foi dado como encerrado e o HD (e a carteira de bitcoins) perdidos; com base na Lei de Controle para Poluição de 1974, a responsabilidade pelo manejo do lixão é da prefeitura, e qualquer tentativa de escavar a área será considerada um crime.

Por fim, a decisão também cita o estatuto local, que limita requisições formais (processos) do tipo em até 6 anos após a ocorrência; todas as tentativas anteriores de Howells em conseguir permissão para escavar o lixão, até abrir a ação contra o condado em 2024, foram basicamente verbais.

Em entrevista à BBC, Howells reclamou que a corte aniquilou o caso antes mesmo dele ter a chance de se explicar, e que não foi movido por ganância, visto que ele pretendia dividir o valor dos bitcoins com a cidade; por outro lado, ele teria evitado tamanho problema se ele tivesse checado o conteúdo do HD antes de colocá-lo no saco de lixo.

Já sua ex-namorada, Halfina Evans, disse recentemente que gostaria que Howells encontrasse logo o HD, não por conta do dinheiro, mas porque ela está “de saco cheio” dessa história.

Fonte: Ars Technica

O homem que jogou quase US$ 1 bilhão em bitcoins no lixo

Adicionar aos favoritos o Link permanente.